O assédio de Bush

Pela segunda vez se realizou a Reunião de Cúpula do Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (Ibas), em Pretória, capital sul-africana, aproveitando mais um giro de contatos internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As chancelarias dos três países, que ocupam atualmente posição de liderança entre as economias emergentes, ao lado da Rússia e México, em nota conjunta deram a entender que até o final do ano sairá a posição oficial sobre as questões agrícola e industrial, concernentes à Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A reunião de trabalho dos presidentes Lula e Thabo Mbeki, da África do Sul, e do primeiro-ministro Manmohan Singh, da Índia, despertou interesse da comunidade econômica mundial, a ponto de o presidente norte-americano George W. Bush telefonar ao colega brasileiro, localizando-o em Johannesburgo, para uma conversa de meia hora, durante a qual as questões mais candentes foram passadas em revista. Segundo testemunhas, seguindo as normas de boa convivência e respeito ao presidente da maior nação da Terra, mesmo sob o assédio de Bush, Lula foi incisivo em todas as colocações.

Em relação ao êxito da Rodada de Doha existe atualmente um questionamento muito grande, tendo em vista que nem os Estados Unidos nem a União Européia, a despeito de todos os apelos encaminhados, deram qualquer sinal concreto no sentido de atenuar os impactos negativos da política doméstica de subsídios agrícolas sobre os países em desenvolvimento.

Por sua vez, os governos dos respectivos países agrupados no bloco G20, sob a liderança dos integrantes do Ibas, passaram a atuar em bloco com o objetivo de neutralizar as cobranças do presidente George W. Bush quanto ao avanço dos principais itens da negociação, não obstante sem a contrapartida de facilidades recíprocas do mercado do Primeiro Mundo às economias emergentes.

Restando menos de um trimestre para o encerramento de mais um ano, nada se revelou sobre a real intenção do governo Bush em termos do esperado corte na concessão de subsídios aos agricultores. No ano passado, o valor total dos subsídios chegou a US$ 11 bilhões, estimando-se para o corrente ano agrícola uma quantia intermediária entre US$ 16,5 bilhões e US$ 13 bilhões, com tendência para a primeira cifra.

Esse foi o teor da conversa entre Bush e Lula, que mais uma vez reclamou do ?amigo? o máximo de boa vontade para lograr desfecho favorável ao ordenamento do comércio mundial.

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