O Acre pode ser aqui

Se você, amigo leitor, leu o artigo “O sinal de alarme que vem do Acre”, assinado por Roberto Pompeu de Toledo, na Veja da semana passada, deve ter ficado, como eu, estupefato. O adjetivo é este mesmo: estupefato, estarrecido, atônito. E também preocupado, muito preocupado, aliás. A que ponto chegamos! E a que ponto poderemos chegar, se não forem tomadas providências imediatas e efetivas?!

É certo que já se conhecia, com maior ou menor riqueza de detalhes, o que vem acontecendo no Acre, e particularmente o recente incidente que tirou o governador Jorge Viana da disputa eleitoral. Mas Pompeu de Toledo teve o dom de colocar as coisas nos seus devidos lugares, dimensionar a sua exata extensão e os seus efeitos e abstrair-lhe os etecéteras. A análise do jornalista é irretocável. E, por isso mesmo, assustadora.

A imprensa do Sul/Sudeste Maravilha, de um modo geral, não deu a importância que deveria ao fato. O Acre é um Estado pequeno, está muito longe, em plena floresta amazônica e – o pior – é governado pelo PT. Só que no episódio que resultou na cassação da candidatura do atual governador à reeleição, pelo egrégio Tribunal Regional Eleitoral, o Acre é uma síntese do Brasil. O crime organizado tomou conta das instituições. Políticos, policiais, o Judiciário… Está tudo na mão da bandidagem. Sob o comando do notório delinqüente Hildebrando Pascoal, aquele ex-parlamentar da República e mestre no manejo da serra elétrica e na arte de esquartejar adversários. Esquartejar, literalmente; isto é, degolá-los, serrá-los ao meio, estraçalhá-los. E com o dito instrumento cortante. O homem cumpre, no momento, temporada atrás das grades, mas isso não o tem impedido, em absoluto, de ditar as regras e conduzir o baile nos salões acrianos.

Tudo iria às mil maravilhas, não fosse a entrada em cena do governador Jorge Viana. Moço atrevido, teimoso e corajoso, entendeu de enfrentar o bando e estragar a festa. E, no Acre, como se sabe, o bando não é um bando qualquer, posto que reúne, no mesmo saco, políticos, fazendeiros, empresários, personalidades da sociedade, jornalistas, donos de empresas de comunicação, policiais civis e militares, advogados, juízes e desembargadores. Não todos, por certo, mas uma boa fatia. Por isso, como represália, Viana teve a candidatura impugnada pelo TRE. O motivo? Era tão grave que os operosos e insignes magistrados nem perderam tempo oferecendo ao acusado uma reles oportunidade de defesa: ele teria utilizado no material publicitário da campanha eleitoral o desenho de uma árvore da floresta amazônica muito parecida com o símbolo do atual governo dele…

Jorge Viana reagiu e teve ganho de causa no TSE. No entanto, ao invés de reclamar, deveria – como bem lembrado por Roberto Pompeu de Toledo -, ter, até, dado graças a Deus, já que a opção poderá ser aquela utilizada contra Chico Mendes, por coincidência quando o governador do Estado era o mesmo Flaviano Mello, que ora disputa o cargo com ele.

Pessoalmente, eu tenho uma certeza, que não é nenhum ovo de Colombo: no Acre ou em qualquer outro lugar, incluindo este nosso abençoado Paraná, a omissão, a desídia ou a incompetência da autoridade pública gera e estimula a criminalidade. Ou seja, quando o guarda não aparece, o bandido toma conta. Assim é nas escolas, nas favelas, nas vilas da periferia e até mesmo no centro das grandes cidades.

O Acre é hoje, apenas, o que será o Brasil, amanhã. E a derrocada somente não se consumará se a sociedade mobilizar-se, com firmeza e seriedade. O dia 6 de outubro será uma grande oportunidade para isso.

Célio Heitor Guimarães

é um cidadão desarmado, mas com o voto engatilhado.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo