Não se pode afirmar, sem o temor de incorrer numa conclusão antecipada e, por isso, perigosa, que o presidente licenciado do Senado da República, Renan Calheiros (PMDB-AL), perderá o mandato na reunião plenária da próxima quinta-feira. Passado o feriadão, todos os senadores estão de volta a Brasília e, pela segunda vez desde o dia 12 de setembro passado, a Casa ver-se-á diante da obrigatoriedade de se manifestar sobre a permanência ou o banimento do colega alagoano.
Desta feita, o processo contra Renan diz respeito à acusação de usar ?laranjas? para adquirir em sociedade com o usineiro e ex-deputado federal João Lyra duas emissoras de rádio e um jornal em Alagoas. A denúncia chegou ao Senado por iniciativa de Lyra, que após a transação afastou-se de Renan em função de questiúnculas políticas domésticas.
O empresário entregou à mesa diretiva do Senado documentos alusivos à composição societária que patrocinou a aquisição dos órgãos de comunicação, com evidências da participação de Renan que, entretanto, preferiu fazer-se representar por parentes e assessores pessoais.
A relatoria do processo foi confiada ao senador Jefferson Peres (PDT-AM), que na semana passada apresentou o parecer pela cassação do presidente licenciado por quebra de decoro parlamentar, enumerando sete indícios sem nenhuma prova concreta. Peres procurou dar consistência ao relatório ao sugerir que ?a reunião de tantos indícios tem o peso de uma prova?.
Os analistas afirmam que o panorama mudou em relação ao julgamento anterior, porquanto Renan se licenciou da presidência e ao circular pelo plenário, dispensando a arrogância, esbanjou abraços, gentilezas e afagos mesmo aos adversários políticos. Na verdade, o clima existente no Senado não sinaliza a probabilidade concreta da cassação do mandato. Contudo, não se conhece por inteiro a disposição de momento do senador petista Aloizio Mercadante (SP), que passou a divergir de Renan desde a absolvição.
Mercadante é reconhecido como um dos senadores petistas de maior influência sobre a bancada e, por extensão, sobre alguns componentes da base. Caso o senador paulista se mantenha fiel à opinião formada sobre o presidente licenciado, dificilmente ele escapará da guilhotina.
Liso como uma enguia, Renan semeou inúmeras pistas da decisão de não voltar ao exercício da presidência, aguardando apenas a absolvição para apresentar a renúncia definitiva ao cargo. Na política brasileira, dizem os especialistas, tudo é perfeitamente possível.
