O ditado era: ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil. Plagiando-o, hoje, ou o Brasil acaba com as comissões parlamentares de inquérito ou elas acabam com o Brasil. Não nos referimos à CPI que se quer instalar, no Congresso, contra Waldomiro Diniz, homem de confiança e força no governo, gente do todo-poderoso ministro José Dirceu, pois esta certamente deve ser plantada e, se plantada, produzir e não ser arrancada como um espinhoso abacaxi.

Referimo-nos às CPIs que se espalham como ervas daninhas em câmaras de vereadores, assembléias legislativas e no Congresso, investigando tudo e todos, sem limites, paralisando ou obstaculizando os trabalhos legislativos. A pauta positiva, como se chamam as ações legislativas. O PT a apresenta como argumento, para opô-la à CPI sobre a ação de Waldomiro Diniz, que poderá revelar que há algo de podre no reino do Planalto.

As CPIs, diz a lei, e é o mais conveniente, devem ser limitadas em quantidade, numa mesma casa legislativa, para que não se tenha funcionando um montão delas ao mesmo tempo, tomando todas as atenções, esgotando toda a demagogia, ocupando toda a mídia e impedindo que leis importantes, como as reformas, sejam discutidas e votadas. Assim, que sejam no máximo cinco CPIs. Senão, a sanha por publicidade de alguns parlamentares fará que sejam cinqüenta, para que possam dar entrevistas, aparecer nos jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão como modernos inquisidores. Inquisidores do bem. Devem, como a lei manda, referir-se a fatos concretos.

Fato concreto é, por exemplo, uma autoridade do segundo escalão do Palácio do governo federal, como Diniz, ser denunciada, com gravação em vídeo e tudo, negociando com banqueiros financiamentos para campanhas de gente como o candidato do PT ao governo do Distrito Federal, da atual governadora do Rio e da ex-governadora e ex-ministra de Lula, Benedita da Silva.

O ministro José Dirceu, e muitos governistas que têm medo desta CPI que visa investigar fato concreto, quis desmoralizar a intenção de criá-la, dizendo que os fatos denunciados aconteceram em 2002, ou seja, antes da atual administração Lula. Verdade, mas verdade também que aconteceram durante a campanha eleitoral e para levar petistas e aliados ao poder.

Evitar que se monte essa CPI é dar um tiro no pé, pois levanta suspeita contra o governo Lula, tido e havido como honesto. E a história de Lula confirma essa boa fama. Esconder o quê? Esconder quem? É bom que se revele a corrupção que adentra qualquer governo, mesmo o mais santo. É preciso que se aponte a maçã podre, senão ela espalha sua podridão entre todos os que a cercam. A defesa tentada pelos petistas de alargar as investigações da CPI, levando-a a investigar todos os casos que possam ter havido de corrupção nas campanhas recentes, retira o caráter de fato concreto que a lei exige como foco de investigação. Não que esses desvios passados não devam ser investigados, mas seria mais conveniente que em outras CPIs, para não paralisar o Congresso e o País, transformando o parlamento numa imensa delegacia ou num insensato tribunal inquisitório, sem tempo para suas precípuas obrigações para com o País.

É importante saber se Diniz é ou não desonesto e que malandragens cometeu para ajudar-se e aos governistas. É imprescindível. Mas, mais importante, é fazer as reformas e votar as leis que se arrastam no Congresso.

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