Por trás dos argumentos republicanos que animaram o PFL a promover a própria ?refundação? – com direito a troca de nome, estatuto, programa e imagem – estão razões bem mais pragmáticas. O novo Partido Democrata pretende passar o chapéu das filiações partidárias para atrair insatisfeitos de outras legendas e trocar direções estaduais e municipais que não agradem às cúpulas. Tudo deve estar pronto até setembro deste ano, a tempo de garantir que os novos filiados estejam aptos a concorrerem nas eleições municipais de 2008.

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O nome Partido Democrata ganhou de Partido da Modernização Democrática. A idéia agora é surfar na onda das eleições dos Estados Unidos, no ano que vem, quando a citação continuada na imprensa do Partido Democrata de lá – bem mais simpático aos brasileiros do que seu rival, o Partido Republicano – ajudará a popularizar a nova sigla aqui e criar empatia com ela. Pesquisas conduzidas pelo cientista político Antônio Lavareda mostraram que o significado da sigla PFL é conhecido por apenas 23% do eleitorado, enquanto 61% sabem explicar o que significa PT.

A mudança de imagem pretende eliminar o último vínculo do partido com a ditadura, ainda lembrado por muitos eleitores brasileiros, como mostraram as pesquisas. Muitos eleitores ainda lembram que o PFL nasceu de uma costela do PDS, então partido do regime militar, justamente para acolher políticos que tinham apoiado a ditadura, mas se engajaram na cruzada cívica da redemocratização. Essa lembrança é um desconforto para as novas lideranças que adiante conduzirão o novo partido.

?É a evolução natural de um partido que nasceu da dissidência de um partido conservador, mas depois evoluiu?, explica o governador José Roberto Arruda (DF), uma das lideranças que pressionaram pela ?refundação?, ávidas por um partido mais livre de estigmas. ?A classe média não dialogava com o PFL?, registra o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), outra liderança emergente. ?Abrimos uma porta com segmentos da sociedade que nos viam com preconceito?, arremata.

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?O PFL vai perder dois estigmas – o de partido do Nordeste e o de partido de direita?, avalia o diretor-executivo da legenda, o ex-deputado Saulo Queiroz (MS). O prefeito do Rio, Cesar Maia, discorda: ?Essa pecha de direita só existe em alguns segmentos sem expressão. Junto ao eleitor é irrelevante. Veja o caso do Rio, que tem o maior eleitorado tradicionalmente à esquerda, onde o PFL venceu todos nos últimos 15 anos.

O novo partido vai exercitar, no discurso ao eleitorado, uma profunda crença nas teses liberais. ?Vamos ser radicalmente democratas, para marcar a nossa discordância com o populismo autoritário que invadiu a América Latina?, diz o deputado José Carlos Aleluia (BA).

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?Nós carregamos um fardo, a forma como foi estigmatizado o pensamento liberal no Brasil. Agora seremos muito mais claros para expor nossas posições?, observa o líder do partido na Câmara, Onyx Lorenzoni (RS). Onyx pretende que o PD se consolide como um partido de centro reformista. ?Vamos apresentar um projeto de país diferente do populismo autoritário?, afirma o líder, reforçando as palavras de Aleluia. Ele lembra que o PFL é filiado à Internacional da Democracia de Centro e o PD manterá essa filiação. A primeira tese ampla que o partido pretende defender será o fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). ?O governo precisa arrecadar menos para aprender a gastar menos?, argumenta ACM Neto.

Nem bem trocou de nome e o partido já foi alvo de ironia por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ?Eu li que o PFL vai se chamar Partido Democrata. Estou quase deixando de ser democrata por causa do PFL?, disse Lula na sexta-feira, no jantar de aniversário do PT. ?Não sou mais democrata-socialista. Mas como sou um socialista democrático, vou continuar sendo democrático, pois não acredito que o PFL seja democrático.? Lula – que estava ao lado do governador Jaques Wagner (BA), que quebrou a hegemonia de 16 anos do grupo de ACM no governo baiano – arrancou aplausos dos 500 petistas presentes.

A mudança que ?refunda? o antigo PFL tem um ingrediente geracional, mas também se destina a responder a esse tipo de provocação nas urnas. Com o novo formato, o partido pretende deixar para trás os desconfortáveis resultados declinantes que colheu nas últimas 11 eleições – tantos nas disputas para o Legislativo quanto para o Executivo.