Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) vão aproveitar a próxima epidemia de dengue que ameaça ser grande neste verão – para testar e aperfeiçoar uma nova técnica de diagnóstico que permite detectar diretamente o vírus no sangue do paciente e ainda fornece o sorotipo da doença em até 48 horas. O exame sorológico usado atualmente identifica os anticorpos produzidos pelo organismo para combater o vírus, o que só é possível de quatro a cinco dias após o surgimento dos primeiros sintomas.
Desenvolvida pelo pesquisador Benedito Antônio Lopes da Fonseca, da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, a nova tecnologia, chamada Nested PCR, utiliza um coquetel especial de reagentes moleculares para amplificar trechos de DNA do vírus in vitro. Cada sorotipo tem uma característica genética específica, o que permite sua identificação. ?A grande vantagem da técnica é que ela detecta o vírus e fornece o sorotipo. A sorologia só diz que o paciente está com dengue?, afirma Fonseca. E esse diagnóstico, muitas vezes, só chega quando o paciente já está praticamente curado dos sintomas sejam eles de dengue ou apenas uma gripe forte. Já a Nested PCR por detectar o vírus e não os anticorpos, permite a confirmação da doença logo após o primeiro mal-estar.
Além de ser importante para os levantamentos estatísticos de controle epidemiológico, a identificação do sorotipo viral pode contribuir para a prevenção de casos hemorrágicos da doença, que costumam ocorrer a partir da segunda ou terceira infecção. Existem quatro tipos de dengue, mas apenas três estão presentes no Brasil.
Segundo Fonseca, acredita-se que a primeira infecção por vírus torne a pessoa mais vulnerável a infecções hemorrágicas por outros sorotipos. ?Se o médico souber por quais vírus o paciente já foi infectado, pode fazer tratamento mais eficaz.?
Fonseca criou a Nested PCR em 2000, durante um estudo de validação tecnológica da PCR convencional. A sigla significa reação da polimerase em cadeia, em inglês.
Entre 75 amostras de sangue com infecção confirmada por exame sorológico, a técnica identificou a dengue em 58 casos (77%), ante apenas 17 detectados pela PCR convencional. As análises, porém, foram feitas com amostras de mais de cinco dias após o surgimento dos primeiros sintomas, quando o organismo já está produzindo anticorpos e a contagem viral no sangue é menor.