Quando paramos um instante e contemplamos o universo de informação que somos bombardeados diariamente, chegamos a conclusão que as infinitas mazelas humanas são um caso perdido, sem solução, e que o Estado em todos os seus aspectos está falido, arrastando junto consigo uma nação de sonhadores, idealistas, miseráveis e esperançosos em ver esta, salva, com distribuição eqüitativa de justiça, tanto legal quanto social e econômica. Corroído pela corrupção, descaso e alto grau de intolerância, tudo por conta da interminável luta pelo poder e consequentemente do dinheiro.
Aqui é obrigatório entender algumas coisas e talvez a mais importante seria o significado de nação. Esta figura abstrata, formada por conceitos filosóficos que tem como uma linha mestra, a união de grupos voltados para um fim comum na busca da defesa de seu território. A forma mais clássica de surgimento do Estado está descrita em Francisco C. Weffort, em “Os Clássicos da Política”, volume 1, pág.212, por Rousseau: “Como tal objetivo, depois de expor a seus vizinhos o horror de uma situação que armava a todos, uns contra os outros, que tornava suas posses tão onerosas quanto o eram suas necessidades, e na qual ninguém encontrava segurança, fosse na pobreza ou na riqueza, inventou facilmente razões enganadoras para fazer com que aceitassem sem objetivo: Unamo-nos disse-lhes -para defender o fraco da opressão, conter os ambiciosos, e assegurar a cada um a posse daquilo que lhe pertence: instituamos regras de justiça e de paz às quais todos sejam obrigados a se submete; que não façam exceção a ninguém, e que de certo modo reparem os caprichos da fortuna através da igual submissão do poderoso e do fraco a deveres mútuos”.
O ponto central esta na vontade ou necessidade coletiva, ela forma primeiro a nação, e consequentemente a figura onipotente do Estado, como gestor da sociedade, dirimindo conflitos, sobrepondo a vontade coletiva sobre a individual, já que na sua composição esta presente à parte da liberdade individual delegada a ele. Mas o que prevalece diante do Estado, quando foge de seus objetivos, ou fracassa em sua forma de ser, movido por interesses pessoais? Sem a menor duvida a vontade que compeliu o grupo a compor a nação. Mas existem outras questões muito mais profundas, que vão além de questões meramente materiais. Nesta iguaria, chamada nação, englobam conceitos espirituais, pois a terra não é apenas e tão somente o lugar onde se ganha a riqueza, mas fundamentalmente onde enterrasse os ancestrais, contrário ao pensamento filosófico, ousamos neste conceito, já que usamos como exemplo à Bósnia, Irlanda do Norte e o conflito mais sangrento da história: Palestinos e Israelenses. Existe ai uma aparente confusão, já que nação é Israel e Judaísmo seria religião, bem como a nação é a Palestina e a religião o Islamismo. Contrapomos que nesta parte do mundo, o principio do corpo de espírito é mais forte, e religião esta acima do Estado, prevalecendo à nação espiritual, independente do território, portanto pouco importa onde se nasce ou se vive, a nação é sempre a religião, pela forte carga cultural dos ancestrais, não servindo apenas parte de território, e sim o todo prometido, para ambos.
Mas tal situação no caso especifico à brasileira, é mais comum do que se pode imaginar. Poucos são os nacionais que não confundem a pergunta sobre nação. A esmagadora maioria das respostas será sobre a origem étnica. Descendente de italianos, polacos, alemães, franceses, holandeses, portugueses com espanhóis, ou negros com índios, quando não uma mistura de tudo. O erro histórico esta nos antigos imigrantes, não que eles tenham culpa, que aqui vieram com o intuito de arrancar da terra a riqueza necessária, para retornarem a sua nação e serem enterrados junto com seus entes. Muitos deles não conseguiram alcançar o eldorado pretendido e acabaram ficando pela falta de recurso para o retorno, e outros tantos na expectativa de amealhar mais fortuna, já que a terra era gentil. Como conseqüência doutrinaram seus descendentes, o amor á terra de origem, e estes por sua vez não criaram vinculo a esta nação, vivendo como seus ancestrais, aventureiros e desbravadores, portanto desprendidos física e espiritualmente da terra que os concebeu.
Em nível mundial o movimento de agregação é dominante, enquanto o certo seria o inverso, e nisto reside à problemática, pois o Estado como conjunto pronto, não serve mais aos interesses e propósitos de grupos, agora divididos, seja por soluções distantes e complexas, que levaram muito tempo para serem resolvidas, e a tendência é que aumentem, já que se fala mais do que se age. Os modelos políticos sociais decaíram ou estão em plena decadência, que se traduz por uma profunda apatia e desinteresse, explicado pela própria ausência de idéias, de verdades pelas quais lutar, de ideologias, de certezas e objetivos. Soma-se a isso o fato de que o mundo moderno não conseguiu cumprir suas promessas, como paradigma do crescimento econômico infinito, da erradicação das doenças e prolongamento da vida, idéias estas, presentes tanto no mundo, pós Revolução Francesa, como no ideal Comunista, de progresso e desenvolvimento.
Reciclar, esta é a palavra chave, expurgando do Estado o obscurantismo e as perniciosidades, o tornando mais ágil e dinâmico para compor o novo Estado, mas o primordial é educar nossos filhos voltados para o espírito de nação pretendida. Talvez seja esta a luz no fim do túnel, já que para nós os mais velhos, o tempo é implacável, pois as idéias proliferam após muitas décadas, e teremos poucas chances de ver os frutos, mas tão importante quanto o fruto é a água, a quantidade de sol, e o preparo do solo. Portanto, hoje, quando perguntarem a você, o que você é, responda sem medo de ser feliz, de pronto: “Brasileiro, nascido em berço esplendido, da pátria amada, Brasil”.
Adolfo Rosevics Filho
é bacharel em Direito, escritor e escultor.