O noticiário político apresentou ontem o que parece constituir um ângulo novo da atual conjuntura partidária brasileira. Por enquanto, uma idéia incipiente surgida numa conversa entre líderes do PDT e do PPS, partidos de centro-esquerda, que trocam impressões sobre o lançamento de candidatura única à Presidência da República, assumindo sem reservas a característica de terceira via, centrada num candidato capaz de atrair o apoio de todos quantos se contrapõem à política econômica do governo Lula. Daí imaginar-se que a conversa tenha derivado para a possibilidade de participar da coligação liderada pelo PSDB, com o oferecimento do candidato a vice-presidente.

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A idéia não chega a ser estapafúrdia, mas para torná-la realidade os proponentes teriam de esgotar um alentado trajeto de negociações, ao longo do qual decerto se confrontariam com empecilhos de natureza vária. O primeiro, e o mais relevante de todos, é que a preferência na indicação do vice da chapa de Geraldo Alckmin, o pré-candidato tucano, pertence ao PFL do senador catarinense Jorge Bornhausen. Avisado da nuança vislumbrada no horizonte do arco partidário disposto a desalojar do Palácio do Planalto o ex-metalúrgico, Bornhausen reafirmou a intenção de colaborar para a ampliação da aliança tucana, mas reservou-se o direito de lembrar que a vaga de vice-presidente não está em discussão. Ou seja, em princípio ainda faz parte da bagagem pefelista. A fim de não conturbar o bloco que trabalha com afinco para se transformar numa forte coligação, o presidente da executiva nacional do PFL, uma das raposas mais antigas ainda em franca atividade na política brasileira, garantiu estar aberto ao diálogo.

A idéia do hipotético desembarque da dupla PDT/PPS na coligação de Alckmin passa também pela definição da política econômica a ser defendida no projeto de governo, tendo em vista que a exigência fundamental de ambos é a implantação de um modelo de desenvolvimento para o País, com base sólida na retomada dos investimentos, fim do arrocho fiscal e crescimento da oferta de empregos, entre outras prioridades. Suspiram os maiores interessados que a porta aberta para o entendimento reside na decisão já tomada por Geraldo Alckmin quanto à escolha dos economistas Yoshiaki Nakano e Luiz Carlos Mendonça de Barros, nomes de prestígio na escola desenvolvimentista, para escrever o programa econômico a ser exposto à sociedade durante a campanha eleitoral.

A dúvida no arraial tucano ainda diz respeito ao comportamento do PMDB, às voltas com a greve de fome do pré-candidato Anthony Garotinho. Fato inusitado, extemporâneo e desqualificado por inúmeros políticos de nomeada no partido, sequer citado pelo telejornal da Rede Globo, no início da tarde de ontem. O apoio do PMDB é disputado com igual ou maior interesse pelo presidente Lula, que não esconde de ninguém a vontade de contar com um peemedebista de escol na vice-presidência. O partido deverá antecipar a convenção nacional para o próximo dia 13, a fim de formalizar a decisão sobre lançar ou não candidato próprio, nesse momento uma linha programática com escassa margem de prosperar.

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Aos poucos o quadro sucessório vai assumindo o contorno definitivo. Caso a coligação tucana venha a obter o apoio do PDT, no Paraná se resolve o problema da verticalização e sai fortalecido o senador Osmar Dias como virtual candidato ao governo.