Muitas estréias nacionais e algumas alterações importantes na programação marcam a 14.ª edição do Festival de Teatro de Curitiba que começa amanhã (17) e termina no dia 27, depois de serem exibidos nos palcos e ruas da cidade 12 montagens na mostra contemporânea, 3 na infantil e 188 no Fringe, a mostra paralela.
Entre as estréias nacionais há desde o primeiro espetáculo de dança-teatro criado por Antunes Filho, "Foi Carmem Miranda" , até um Chekhov de um de seus mais talentosos discípulos, o ator Luís Melo, que fundou em Curitiba o Ateliê de Criação Teatral (ACT), centro de pesquisa nos moldes do CPT dirigido pelo mestre. "Trabalhamos durante um ano inteiro sobre o universo literário de Chekhov e ‘Daqui a Duzentos Anos’ baseia-se principalmente em três contos", diz Melo. "É um espetáculo muito simples. Pelo menos é esse nosso objetivo, conseguir essa coisa difícil que é a simplicidade."
Também na mostra contemporânea o público poderá conferir o primeiro texto teatral do escritor Ignácio de Loyola Brandão, "A Última Viagem de Borges", dirigido por Sérgio Ferrara e com cenários da artista plástica Maria Bonomi. Não se trata de um biografia. Com sensibilidade e humor, Ignácio lança mão de elementos caros ao universo de Borges, como espelhos, labirintos e a figura do duplo para construir uma bem urdida trama, na qual o poeta, vivido por Luiz Damasceno, faz uma perigosa viagem, na companhia de alguns personagens, em busca de uma palavra perdida.
Luiz Valcazaras, diretor de um dos grandes sucessos da história do festival, o solo "Anjo Duro", volta à mostra com "Dança Lenta no Local do Crime", peça do americano William Hanley, que tem três personagens: um negro muito inteligente, uma garota grávida e um judeu que se encontram à noite, por acaso, num misto de bar e mercearia localizado na periferia de uma grande cidade. "Como artista, sempre estive mais voltado para os conflitos da alma humana do que para aqueles diretamente relacionados com a realidade socioeconômica. O que me atraiu nesse texto foi justamente a possibilidade de unir esses dois aspectos", argumenta Valcazaras.
O grupo Arte e Ciência no Palco também está de volta com "A Dança do Universo", texto de Oswaldo Mendes, que divide o palco com o ator e produtor Carlos Palma e a atriz Selma Luchesi o trio do espetáculo "Copenhagen", outro destaque na história do evento. "Baque", dirigido por Monique Gardenberg, e a nova montagem do grupo Armazém, "A Caminho de Casa" estão entre outros trabalhos que despertam expectativa positiva.
Num festival com tantas atrações, nada mais natural que o espectador tente ver o máximo de peças possível. Ocorre que na mostra contemporânea – integrada por espetáculos convidados, cujas montagens recebem cachê e têm estadia e transporte patrocinados pela organização do evento – havia sempre peças no horário das 20 horas e 21h30. Neste ano, todas as peças dessa mostra serão exibidas às 20h30 e o seu número foi reduzido. "Era comum ver gente entrando atrasada na última ou saindo mais cedo da primeira", diz Victor Aronis, diretor do festival. "Com essas alterações, evitamos a competição entre elas e ainda aumentamos o número de apresentações, o que pode facilitar a presença do público atraído pelo boca-a-boca."
Também o Fringe – nessa mostra os grupos pagam para participar – houve alterações. Um delas diz respeito aos grupos que vêm da Unicamp. No ano passado, o Estado chamou a atenção para a qualidade desses trabalhos, criados no âmbito da universidade – e também para a forma como esses estudantes se organizaram numa proveitosa parceria para diminuir custos de transporte e estadia. Neste ano, eles voltam a se unir para mostrar no evento 13 espetáculos, criados por 7 grupos, envolvendo 92 pessoas. A novidade é que a organização do festival reservou um teatro unicamente para essas montagens e outro só para os estudantes da USP, que decidiram seguir o exemplo dos primeiros. "Como eles se conhecem previamente, a harmonia é maior no compartilhamento do espaço", observa Aronis. "Além disso, há afinidade de propostas, o que facilita também a escolha do público."
