O Partido dos Trabalhadores possui 800 mil filiados e, nesse quesito, mantém folgada dianteira em comparação aos demais partidos. Contudo, essa militância poucas vezes foi acionada nos últimos tempos da vida partidária para opinar, discutir e referendar as decisões tomadas pela cúpula.
Há quem ouse afirmar que no PT as decisões sempre são tomadas pela base e executadas pelos dirigentes. A realidade atual desmente a premissa e desmoraliza seus defensores, na medida que – a julgar pelas últimas ocorrências – a militância foi vítima da mesma estupefação disseminada entre o povo brasileiro.
Desde alguns anos, especialmente após a ascensão do deputado José Dirceu à secretaria geral e à presidência do diretório nacional, a cadeia de comando hierárquico no partido foi solidamente apropriada pelo Campo Majoritário, em última análise, a reunião das tendências moderadas abrigadas sob a legenda.
Com a eleição de Lula, o principal articulador da marcha que levou o PT à vitória, José Dirceu, passou a ser como ministro-chefe da Casa Civil o segundo homem do governo federal. Autoridade reconhecida na formação da base de sustentação política do projeto, não abriu mão, entretanto, embora não mais tivesse acompanhado o processo decisório, de plantar homens de sua irrestrita confiança no núcleo dirigente da agremiação.
Ao que se percebe, a cúpula formada por José Genoino, Delúbio Soares, Sílvio Pereira e Marcelo Sereno, marcada por acintoso despreparo e, pior, encandeada pelo fascínio do poder acabou se envolvendo numa série de práticas ultrajantes à história do PT.
Houve incompetência na organização do governo Lula e da própria estrutura diretiva do PT? O ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, candidato à presidência nacional do partido, é inflexível ao dizer que sim. E aponta como responsável direto pelo descalabro o ex-chefe da Casa Civil.
Sampaio apregoa uma nova gerência para a recuperação da imagem que o PT construiu com tanto esforço. O presidente interino, Tarso Genro, um dos últimos intelectuais de prestígio a permanecer no barco arrombado, fala de refundação, o que vem a ser a mesma coisa.
Nunca foi tão urgente para o PT o desafio de escrever uma nova página em sua história.