São Paulo (AE) – A cúpula do PT vai monitorar os ministros do partido. Na primeira reunião da Executiva sob nova direção, os petistas aprovaram propostas de trabalho com termos pomposos, que constam do organograma de grandes corporações. Um deles é o "programa de relacionamento" com os ministros do PT, que, a partir de agora, deverão prestar contas ao partido. O outro é o "gabinete de crise", instalado ontem com o objetivo de coordenar a ação das bancadas do PT na Câmara e no Senado, que hoje batem cabeça, além da atuação dos parlamentares do partido nas CPIs dos Correios e do Mensalão.
"Não se trata de enquadrar os ministros do PT", disse o novo presidente do partido, Tarso Genro, ele próprio ministro da Educação até o dia 27, quando deverá deixar o governo. Tarso observou, no entanto, que o relacionamento do partido com os ministros será diferente daquele que foi estabelecido na gestão de José Genoino, o presidente do PT que renunciou ao cargo depois da prisão do ex-assessor parlamentar de seu irmão, pego em flagrante com uma mala recheada com R$ 209 mil, além de US$ 100 mil na cueca.
"Entendemos que os ministros devem ao PT informações e explicações sobre o trabalho que estão fazendo para que o partido possa colaborar", disse Tarso. Na contramão do argumento de que partido e governo precisam ter autonomia, o PT quer, na prática, ter maior controle sobre os titulares de pastas comandadas pela legenda, especialmente sobre Antonio Palocci, da Fazenda. Dono de idéias que causam arrepios aos petistas, Palocci prega agora o "choque de gestão", que prevê a redução dos gastos públicos e pode afetar os investimentos na área social.
O senador Eduardo Suplicy (SP) foi o autor da proposta do diálogo com Palocci. "Achei que, dado o interesse despertado pelo déficit nominal zero, taxa de juros e distribuição de renda poderíamos chamá-lo. Foi quando Tarso disse que gostaria de ter um relacionamento diferente com vários ministros do governo, e não apenas com Palocci", contou Suplicy.
Dias depois da avalanche de denúncias de corrupção que atingiu em cheio o PT e o governo Lula, Tarso não falou em nenhum momento em punições no partido. Questionado sobre qual será a atitude em relação a José Adalberto Vieira da Silva, o homem da mala que é secretário de Organização do PT cearense e assessor do deputado José Nobre Guimarães (CE), irmão de Genoino Tarso foi taxativo: qualquer iniciativa cabe ao diretório regional. "A direção nacional é a segunda instância", observou. "Oportunamente, veremos se é o caso de abrir Comissão de Ética."
O novo presidente do PT disse que a função da executiva da crise é "redesenhar" a imagem do partido, abalada por sucessivas acusações envolvendo seus dirigentes. Admitiu que "o PT errou" ao jogar exclusivamente sobre suas costas o referencial da ética e da virtude e garantiu que todas as denúncias serão investigadas. Tarso ressalvou, porém, que o PT "não tem função policial". "Não podemos quebrar sigilos", insistiu. Depois, indagado se o PT esclareceria o seu relacionamento com o publicitário Marcos Valério, acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o "operador do mensalão", Tarso mostrou surpresa. "Esclarecer o quê?", perguntou. "Isso não só está sendo esclarecido como será examinado pela Comissão de Ética."
Para a imagem de eficiência que o PT quer "vender", o mais importante é sanear as contas do partido – hoje com dívidas de R$ 20 milhões – e adotar procedimentos de uma grande empresa. Tanto o "programa de relacionamento" com os ministros como o "gabinete de crise" serão coordenados pelo novo secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, ex-ministro do Trabalho.
"Gabinete de crise é algo natural. É instalado quando há uma situação adversa, inclusive em corporações", comentou Berzoini. Caberá ao gabinete avaliar as dimensões dos estragos na imagem petista e ajudar e definir estratégias de defesa. "Não adianta falar em gabinete de crise se nós nem discutimos a crise nessa reunião", protestou Jorge Almeida, secretário de Movimentos Populares do PT.