A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entregou ontem à Procuradoria Geral da República a aguardada notícia-crime contra o presidente Lula, pedindo a abertura de investigações para apurar o grau de envolvimento do chefe do Executivo no escândalo do mensalão e, também, na ainda não explicada associação da empresa de telefonia oriunda do programa de privatização do governo FHC com a produtora de jogos eletrônicos pertencente a Lulinha, um de seus filhos.
Pontos obscuros que nem as mais elaboradas ?explicações? oficiais foram capazes de esclarecer para a opinião pública.
Cabe ao procurador-geral Antonio Fernando de Souza decidir se oferece ou não denúncia contra o presidente, fato deveras improvável a essa altura pela proximidade da campanha eleitoral e, em especial porque Lula não foi incluído, apesar do esforço malogrado da oposição, no relatório final da CPMI dos Correios e, tampouco, na exposição do procurador sobre as atividades do grupelho que chegou a usar dependências do Palácio do Planalto para encontros, citados há mais de um ano, pelo ex-deputado Roberto Jefferson.
A notícia-crime, que não deixará de ser um pesado fardo sobre os ombros de Lula, procura estabelecer um vínculo de verossimilhança, dizem muitos, entre o presidente e os ex-ministros do chamado núcleo duro, alguns deles incluídos na lista dos operadores da organização que pôs em prática o aluguel de legendas e a compra de votos na Câmara Federal, além de fornecer dinheiro ?não contabilizado? à base aliada. Chegou-se ao requinte de lembrar os rasgados elogios do presidente aos indigitados ministros envolvidos na trama, em mais de uma ocasião, mesmo que depois tivesse passado pelo dissabor de incinerá-los do ponto de vista moral, com a exoneração.
Outro ponto complexo da petição da OAB é o desmedido interesse da poderosa empresa de telefonia na desconhecida produtora de vídeos, que somente um lance do acaso poderia justificar: a citada produtora tinha como sócio majoritário o primogênito do casal presidencial, Luiz Fábio da Silva, o Lulinha.
É óbvio que a OAB procurou fazer sua parte, depois de arquivar o pedido de impeachment do presidente, mesmo tendo ciência da remota probabilidade da notícia-crime avançar para o âmbito do Judiciário. É natural supor que Antonio Fernando seja estimulado a ingressar na fase pessoal de ?engavetador-geral?, assumindo a tarefa ingrata de conservar o pleito em banho-maria. Entrementes, resta à sociedade reivindicar em alto e bom som seu direito de conhecer a verdade em toda a sua extensão.