Nosso aniversário

Estamos deixando para trás os 52 e entramos no ano 53. Mais de meio século de presença diária, marcante, independente, por vezes dramática, mas sempre esperada e necessária em todo o Paraná. Um jornal é como uma casa de família: funciona todos os dias e, na rotina de todos os dias, é sempre cheio de novidades.

Já se disse alhures que fazer jornal não é como produzir sabonetes. Nem construir blocos de cimento. Nem mesmo realizar uma obra de arte, ou executar um projeto de engenharia. Jornal é um pouco de tudo: arte, indústria, arquitetura, comércio, mas, acima de tudo, apego aos fatos e aos interesses dos leitores sobre esses fatos. Por isso não pode estar dissociado nem dos fatos nem dos leitores – os consumidores privilegiados de uma época que os valoriza sobremaneira.

O consumidor (ou o “cliente”) de um jornal guia-se, principalmente, pela credibilidade. E a credibilidade de um jornal advém de muitos fatores. Vai desde o jeito de colher notícias, perceber os fatos, abordá-los com impessoalidade e imparcialidade, até a entrega do último exemplar ao leitor mais distante que, diferentemente do ouvinte da televisão, não é passivo nem está subordinado ao prato feito do programa daquele horário. Cada um lê o que quer. Ou não lê se não lhe interessa. E quando lê, analisa, compara e, não raro, reage e interage.

Isso – é claro – nada tem a ver com o nosso aniversário. Mas é preciso um pouco de reflexão sobre o que significam 52 anos completos de azáfama constante e de rotativas em movimento, em especial quando sabemos que estamos numa época em que os exegetas da comunicação de massa colocam em questão a sobrevivência dos veículos impressos. Temos para nós que tais profecias são todas falhas. Fosse assim, o livro já teria desaparecido ante o advento do rádio, do cinema, da televisão, da internet. No máximo, esse papel coberto de caracteres de tinta preta, às vezes colorida, será substituído por outro semelhante ao plástico, reutilizável e instantaneamente impresso de forma eletrônica ao ser plugado numa tomada qualquer. Mas até lá virão outros aniversários.

Futurismos à parte, convém que o sonho não atrapalhe a realidade. E a realidade de hoje, já um dia com esses mesmos ares de irrealidade, nos remete também àquela de ontem, mais simples, porém não menos heróica, e que nos serve de alavanca para a motivação de nosso trabalho quotidiano. Tempos do chumbo derretido para fazer letrinhas, do clichê de boa retícula para reproduzir imagens e fotografias, hoje digitais. Época do preto e branco absoluto que deu lugar ao universo maravilhosamente colorido, imitando a realidade. Houve um tempo em que a notícia, hoje transportada através de bites e bytes à velocidade da luz, acompanhava fisicamente o repórter – do caro de boi ao helicóptero. Hoje, nossos colaboradores não mais se subordinam à presença física na redação, embora aquela que os obriga a acompanhar os fatos seja insubstituível.

Eis aqui a lição mais importante dessa efeméride que marca a passagem de nosso aniversário: por qualquer meio, em qualquer circunstância, seja qual for a tecnologia usada e o grau de complexidade de sua evolução, essa credibilidade que é a alma de nosso produto – a informação – depende sempre do homem, dos profissionais que aqui atuam. Como testemunhas, cúmplices, protagonistas. Mas sempre dispostos a transmitir com sinceridade, destemor e independência aquilo que o nosso “cliente”, o leitor, tem o direito de saber no dia seguinte. Por isso, nosso aniversário é apenas uma oportunidade de reafirmação de fé, esperança, dedicação e, acima de tudo, compromisso com os fatos.

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