É certo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem problemas mais urgentes a tratar no momento, mas segue movimentada a bolsa de apostas para a formação da equipe ministerial em um eventual segundo mandato. Em meio às especulações sobre uma transferência do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para o Ministério da Fazenda, circulam nos bastidores pelo menos três argumentos que apontam para a direção contrária.
Primeiro: quem estiver na cadeira do ministro em 2007 e 2008 vai administrar um tremendo arrocho fiscal. Segundo: o cargo é normalmente entregue a pessoas próximas ao presidente e com trânsito político na base governista. Terceiro: passar de presidente do BC para ministro da Fazenda não é mais uma promoção, como foi no passado. Desde 2004, o presidente do BC é, na hierarquia do governo, um ministro.
Caberá ao ministro da Fazenda em 2007 fechar o cofre e dizer "não" para os colegas da Esplanada dos Ministérios. Isso ocorrerá porque o governo expandiu muito seus gastos, ao conceder aumentos ao funcionalismo público e ao salário mínimo. No ano que vem, será a hora de reequilibrar as contas, segurando as despesas.
Outra razão para Meirelles não figurar entre os favoritos ao posto de ministro da Fazenda é que esse é um cargo-chave na administração. Por isso, sempre é ocupado por alguém com trânsito nos partidos políticos da base governista. Meirelles não se encaixa nesse perfil. Ele chegou a Brasília como deputado eleito pelo PSDB.
A terceira razão é o status. Até 2004, o presidente do BC era subordinado ao ministro da Fazenda. Naquele ano foi editada uma medida provisória, já convertida em lei e confirmada pelo Supremo Tribunal Federal, que elevou a condição do presidente do BC à de ministro. Com isso, ele passou a responder diretamente ao presidente.
Meirelles chega ao final do mandato de Lula como o principal responsável pelo mais sólido resultado do governo: o controle da inflação, que fez baixar o preço dos alimentos e subir a popularidade do presidente, apesar da frustração quanto ao baixo crescimento econômico. Uma hipótese é Meirelles ficar onde está e depois sair como vitorioso, em vez de assumir um posto de alto risco como o de ministro da Fazenda.
Segundo uma fonte da área econômica, a saída do presidente do BC no início do segundo mandato só deixaria o mercado com a pulga atrás da orelha.
Os mais prudentes defendem que, se a opção for substituir Meirelles, haja uma transição, até que sejam reduzidas as dúvidas quanto aos rumos da política econômica – que tendem a se reacender na virada do governo. Há quem diga que esse período duraria mais de um ano, até o momento em que Meirelles deixaria o posto para concorrer à prefeitura de Goiânia. E há quem diga que ele pode ficar os quatro anos no comando do Banco Central.