Noite ecológica do Oscar consagra Al Gore

Foi o momento político da 79ª cerimônia de entrega do prêmio da Academia de Hollywood. O ex-vice presidente Al Gore já havia subido ao palco do Kodak Theatre com Leonardo DiCaprio, que decretou que o Oscar deste ano era o mais ecológico da história. Gore havia feito suspense. A pedido de Leo, anunciou um pronunciamento e disse que ia se candidatar a… A música subiu, o anúncio ficou só como uma piada que os dois compartilharam, e saíram rindo abraçados do palco. Al Gore voltou, depois – acompanhado pelo diretor David Guggenheim, do documentário vencedor Uma Verdade Inconveniente. Se o Oscar já era ecológico, ficou mais ainda. Gore exortou a necessidade de uma política de preservação dos recursos não renováveis. Disse que ecologia é também uma questão de ética. Foi aplaudidíssimo.

Na abertura da festa, a apresentadora Ellen De Generes havia saudado a diversidade como a marca da 79ª entrega de prêmios da Academia de Hollywood. ?É o Oscar mais internacional de todos os tempos. Temos aqui muita gente do México, do Japão, da Inglaterra, até dos EUA?, ela disse – é verdade que cometendo alguns equívocos, como definir a bela Penelope Cruz, indicada para o prêmio de melhor atriz, por Volver, como mexicana. A diversidade ficou comprovada de cara, quando os dois primeiros Oscars da noite, para melhor direção de arte e maquiagem, foram atribuídos a O Labirinto do Fauno, produção hispano-mexicana dirigida por Guillermo Del Toro, que ganhou mais uma estatueta até o fechamento desta edição, a de melhor fotografia. A globalização prosseguiu com os prêmios de curta de animação, para o norueguês The Danish Poet, narrado por Liv Ullman, e melhor curta, para o israelense West Bank Story.

Primeira mulher a apresentar o Oscar nos últimos cinco anos, Ellen não foi engraçada como outros mestres de cerimônia, mas em compensação foi ferina. Citando as personalidades presentes no Kodak Theatre, citou o ex-vice presidente Al Gore como ?o presidente que nós elegemos e depois vocês sabem…? – referindo-se aos acontecimentos na Flórida que terminaram dando a vitória a George W. Bush na eleição anterior. Tratando-se de uma lésbica assumida, não surpreende que Ellen também tenha tido o seu momento de militância, dizendo que ?sem os negros e os gays não existiria o Oscar?. A platéia entendeu corretamente que não era piada e levou a afirmação a sério.

Mas a diversidade internacional não durou muito. Afinal, a festa era do cinema americano. Precedido pela apresentação do coro de efeitos de Hollywood, com homens e mulheres que fizeram, à capela, o som de cenas famosas da história do cinema – em filmes como Cantando na Chuva, Ben-Hur e O Aviador -, o Oscar de edição de som foi para Cartas de Iwo Jima, o primeiro para o filme de Clint Eastwood. Na seqüência, outro Oscar de som, o de mixagem, foi para Dreamgirls – Em Busca de Um Sonho, o que nem causou tanta surpresa porque o filme, afinal de contas, é musical. Alan Arkin ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante, por Pequena Miss Sunshine – uma surpresa em termos, pois na noite anterior, ele já havia recebido o Oscar indie pelo papel. Os americanos continuaram dando as cartas. Jennifer Hudson foi a melhor atriz coadjuvante por Dreamgirls – Em Busca de Um Sonho, o que pode ter sido maravilhoso para a garota gordinha que havia sido defenestrada do programa American Idol, mas foi profundamente injusto com a poderosa Adriana Barraza, de Babel.

Prêmio para o melhor longa de animação – e o Oscar foi para Happy Feet, o Pingüim. Inovações no Oscar de roteiro. A academia não apenas fez um clipe com imagens famosas de roteiristas (e escritores) no cinema, como desta vez, ao apresentar os indicados, colocou na tela trechos do roteiro de cada um dos filmes. E o vencedor foi Os Infiltrados, que William Monaham adaptou do thriller de Hong Kong, Internal Affairs. Do texto para o visual, o Oscar de figurinos, apresentado por duas das mais belas belas mulheres da noite – Emily Blunt e Anne Hathaway – foi para Marie Antoinette, de Sofia Coppola, um trabalho requintadíssimo de Milena Canonero, que agradeceu a seu mestre Stanley Kubrick (ela já havia recebido dois Oscars antes, um deles por Barry Lindon).

Tom Cruise, em baixa em Hollywood, costumava ser chamado para apresentar os Oscars principais, de melhor diretor ou filme. Desta vez, apresentou o prêmio humanitário para Sherry Lansing, mulher do cineasta William Friedkin, que, como ele, também foi demitida do estúdio Paramount. Terá sido uma ironia? Sherry, de qualquer maneira, fez um belo discurso, lembrando que se o cinema dá visibilidade a muitos artistas para que lutem por causas justas, mais importante era destacar os anônimos – professores, médicos, pessoas de boa vontade ao redor do mundo – que não têm tanta exposição na mídia, mas se dedicam a benemerência com a mesma paixão.

Embora o segredo da premiação seja um dos dogmas do prêmio -os envelopes só são abertos na hora -, tem de haver algum tipo de tramóia na entrega do Oscar de melhor filme estrangeiro. É muito freqüente que atores mexicanos, espanhóis e italianos entreguem o prêmio aos indicados de seus países. Quando Cate Blanchett e Clive Owen subiram ao palco para apresentar o prêmio, era evidente que Labirinto do Fauno, mesmo tendo recebido tantos prêmios importantes, não levaria o maior de todos a que estava concorrendo, e o vitorioso foi o alemão The Lives of Others. O Oscar especial para Ennio Morricone foi um apoteose e quem o entregou foi Clint Eastwood, o ator dos spaghetti westerns de Sergio Leone que fizeram a fama do grande Ennio.

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