No fundo dos fundos

Foi o ministro da Fazenda, Guido Mantega, quem levantou a lebre: se as taxas de juros continuarem caindo, haverá uma situação em que as cadernetas de poupança e o FGTS ficarão com rentabilidade competitiva com os demais fundos existentes no mercado. Os bancos que administram estes fundos estão reclamando providências. Querem que eles continuem na roda da ciranda financeira e não sejam expulsos por uma corrida de gente miúda, os pobres e trabalhadores que não têm dinheiro para grandes jogadas. Conformam-se com a poupança e o que os patrões depositam, compulsoriamente, no FGTS.

Dos tipos de aplicações financeiras existentes no Brasil, o que paga menos é o FGTS. Remunera seus quotistas com juros de apenas 3% ao ano mais TR. Remuneração mesmo só os míseros 3%. O resto é recuperação do dinheiro que encolheu. Já a caderneta é um pouco mais generosa, pois paga juros de 6% ao ano mais TR. Mas também uma miséria.

Alertado pelos bancos de que estes investimentos de pobre poderiam fazer concorrência com aqueles dos ricaços, o governo providenciou para que os cálculos da TR sejam mudados, de forma a que pobre continue aplicando em negócio de pobre, ganhando pouco e, assim, continuando nas faixas de baixa renda. E rico possa continuar rico, pondo o dinheiro onde melhor rende sem precisar trabalhar. Argumentou-se que as cadernetas de poupança e o FGTS são investimentos sem imposto de renda. Os demais pagam. E que os investimentos dos grandes, além de pagarem imposto de renda, ainda têm taxas de administração, algumas maiores, outras menores, mas sempre suficientes para encher as burras dos bancos. Têm razão os banqueiros e tem razão o ministro Mantega. Se a Selic, taxa básica de juros, ficar abaixo dos 12%, e está quase lá, ou todo mundo vai para a poupança, a fim de livrar-se do imposto de renda, ou o rico vai ter que trabalhar com o seu dinheiro, aplicando em negócios imobiliários, instalação de estabelecimentos comerciais ou industriais ou ainda comprar ações, o que é passar a ser sócio de empresas de capital aberto. Acaba a mamata de ganhar despreocupadamente, sem trabalhar, com juros não muito altos, mas, para quem tem um bom capital, suficientes para não precisar trabalhar. E os pobres, o que é que fazem com os caraminguás que eventualmente consigam poupar e o dinheiro do FGTS, que só podem levantar quando são postos no olho da rua, sem justa causa; ou quando ficam doentes de doenças gravíssimas; ou ainda quando usam o dinheiro para financiar a casa própria? Ou quando morrem? Às vezes parece que é melhor torrar o dinheiro em sorvetes para a filharada.

Mas aplicar o FGTS na casa própria parece uma boa. Acontece que baixando a TR para reduzir a rentabilidade das cadernetas de poupança e do FGTS resulta em baixar os juros das prestações da casa própria. Dá para entender toda essa manobra se a gente se ativer aos números e ao jogo do dinheiro, mas que ele é uma bruta injustiça, isto é. O que se está cogitando é baixar os juros para os pobres para não sacrificar a renda dos ricos. Acontece que em todo país onde os juros minguam, o dinheiro acaba migrando para o mercado de capitais, o das ações. Empresas lançam ações para novas fábricas ou ampliação das existentes. Empresários criam empresas captando dinheiro nesse mercado. E todo mundo, inclusive gente de poucas posses, passa a preferir ser dono de um pedacinho de uma empresa a contentar-se com juros insignificantes em cadernetas ou mesmo em outros fundos melhor remunerados.

Aí, não há solução nem para os bancos nem para o Mantega nem para a ciranda financeira. A rentabilidade das ações não é garantida, mas será uma solução para o País, que sempre sairá ganhando com um mercado de capitais forte, robusto.

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