No desenvolvimento de Curitiba os imigrantes fizeram a diferença

?A maior prova da integração étnica de Curitiba é a lista telefônica?. É assim, de maneira simples, mas bastante ilustrativa, que a historiadora Oksana Boruszenko define a rica mistura de povos que ajudou a moldar Curitiba, que hoje completa 312 anos de fundação. Neste aniversário da cidade, O Estado do Paraná resolveu mostrar um pouco dos povos que formaram Curitiba e que foram os responsáveis por dar à cidade características tão peculiares e que a tornam singular no contexto brasileiro.

Dizer que Curitiba faz parte de um Brasil diferente não passa de um clichê. ?Não é isso, a cidade possui características próprias, sobretudo européias, tanto é que chega a nevar por aqui?, brinca a professora ucraniana, que chegou com 10 anos de idade em Curitiba, fugindo com a família da 2.ª Guerra Mundial.

De acordo com Oksana, foram, sobretudo os poloneses, ucranianos, alemães e italianos que contribuíram com a formação e o desenvolvimento da cidade. ?Os japoneses e árabes também contribuíram, sem dúvida, mas eles chegaram depois, quando Curitiba já estava formada?, ressalta. No entanto, muito se deve a estes povos que ajudaram a criar um cinturão verde em torno da cidade, caso dos japoneses, e desenvolveram o comércio, nesse caso, os árabes. Conforme Oksana, outros povos também fixaram residência em Curitiba, mas em contingentes menores: ingleses, suíços, franceses, espanhóis, portugueses, gregos, entre outros.

Trabalhadores especializados

A historiadora explica que a vinda de imigrantes a Curitiba se insere na terceira fase da política imigratória brasileira, estabelecida depois da independência do país, em 1822. ?Em uma primeira fase, o Brasil precisava de imigrantes para defender as fronteiras do país e habitar os vazios demográficos?, conta. Depois disso, era necessário trazer mais imigrantes para substituir a mão de obra escrava, que estava em vias de se extinguir, com a abolição da escravatura. Nessa fase, explica Oksana, vieram os imigrantes para trabalhar, sobretudo, na lavoura cafeeira.

É na terceira fase dessa política que vieram os imigrantes que formaram Curitiba. A historiadora explica que o país precisava de mais gente para trabalhar nas grandes obras públicas e também para abastecer os grandes centros urbanos. ?Os imigrantes que chegaram em Curitiba se inserem nessa, muitos deles vieram como artífices e operários especializados?, conta. Assim, os alemães dominavam as fábricas de fitas e pianos; o comércio alimentício estava nas mãos dos italianos e alemães; a produção de hortaliças era dominada pelos ucranianos e poloneses.

Gente diferente

A contribuição desses povos não parou por aí. A integração dessas culturas é visível em diversos aspectos: desde o artesanato local – com as pêssancas ucranianas – até a arquitetura das casas, com forte influência da técnica enxaimel, que significa enchimento (aquela mistura de madeira e tijolos, típica das casas alemãs). Para se conhecer a cultura italiana não é preciso ir à Itália. O bairro de Santa Felicidade concentra características muitas vezes mais originais do que as encontradas hoje na Itália. E tem também os judeus, os árabes e os japoneses. ?Todos estes povos juntos ajudaram a dar uma cara para Curitiba?, frisa Oksana.

E essa cara ?diferente? não parou de atrair gente. A cidade ficou famosa por oferecer boas condições de vida e a migração também foi estimulada. Tanto é que hoje, 48% da população de Curitiba é formada por gente de outras regiões do país. Algumas imigrações silenciosas também puderam ser observadas mais recentemente, conta a historiadora. Bolivianos, equatorianos, paraguaios, argentinos e, mais recentemente, coreanos, constata Oksana.

Num processo sociológico comum, o comércio que ontem era dominado por árabes e judeus, está por conta dos coreanos e chineses. Os filhos dos judeus viraram doutores, com isso quem vai cuidar da lojinha? Questão prontamente respondida por Oksana: esse espaço foi ocupado pelos coreanos que têm capital e vieram para cá, formando empresas familiares.

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