Não há como evitar o lugar-comum: o Brasil vai parar hoje para acompanhar o depoimento do deputado José Dirceu à Comissão de Ética e Decoro Parlamentar. O depoimento tornou-se indispensável desde o início do furacão Roberto Jefferson, tendo em vista a comprovação de quase todas as observações feitas pelo deputado fluminense.
José Dirceu deverá ser convocado a depor também na CPMI dos Correios, e a decisão nesse sentido deve ser tomada com urgência, já que não há mais argumentos para retardar a oitiva do ex-ministro-chefe da Casa Civil, para quem confluem todos os indícios de paternidade do esquema que destroçou o governo Lula.
A Veja desta semana publica reportagem de capa intitulada ?O risco Dirceu?, dando conta da ansiedade vivida pelo presidente e seus auxiliares pessoais, ante a nitroglicerina pura pretensamente entremeada no depoimento do ex-ministro e a devastação final do edifício que alguns se esforçam para manter em pé.
Dentre os rumores da matéria está a revelação, ainda não comprovada, do aparecimento de Roberto Marques, o Bob, assessor direto de José Dirceu, como sacador de um cheque de R$ 50 mil da conta das empresas do publicitário Marcos Valério, no onipresente Banco Rural.
A forma imediata de evitar a consternação foi alegar a grande quantidade de homônimos e a suposta possibilidade de que o dinheiro pode ter sido sacado por um cidadão do mesmo nome. Complicado é aceitar que em meio à profusão de conhecidos deputados e seus assessores, apareça um reles intrometido para também empalmar sua lasquinha do novo ciclo do ouro das Minas Gerais.
O mais interessado no depoimento do ex-ministro é o presidente Luiz Inácio, que tratou de livrar-se imediatamente da incômoda vizinhança em seu gabinete de trabalho. Mágoa que José Dirceu não esconde de ninguém, ter sido tratado com tamanho menosprezo pelo amigo fraterno a quem planejava, em 2006 ou 2010, suceder na presidência da República.
O senador Eduardo Suplicy fez candente apelo a José Dirceu para que conte toda a verdade à Comissão de Ética, sem poupar a mais irrelevante informação. O senador vê nisso contribuição inestimável ao PT, ao governo e ao País.
Resta saber se José Dirceu pensa da mesma forma, ou vai preferir despejar o resto da gasolina na fogueira desenfreada.