Estamos a poucos dias de o próximo governo assumir o comando da nação e quase nada se ouve sobre projetos para resolver o problema da segurança pública no País. Falar dessa mazela, não se trata de demagogia e perda de tempo. É o problema mais real e próximo do povo. A Fundação Getúlio Vargas divulgou esta semana uma pesquisa apontando que os curitibanos pobres são os que têm mais medo da violência. Atual e futuro governos parecem distantes dessa trágica constatação.
Talvez seja por isso que em bairros mais humildes das grandes cidades a famigerada “lei do silêncio” impere. Muitas vezes como forma de retribuição aos favores – alimentos, saúde e “segurança” – que traficantes e quadrilheiros prestem à população local. Papel este que é obrigação do Estado. Tarefa que parece ser ignorada. Quem sabe isso aconteça porque as autoridades não tenham vivido o drama de ser vizinhas do mundo do crime, principalmente o narcotráfico.
Maldita “indústria” lucrativa, que movimenta bilhões de dólares e destrói milhares de lares. Não querendo desejar o mal, mas se a maioria das autoridades tivesse um problema com drogas na família, saberia como lidar com um inimigo de grande envergadura. Perder noites de sono, a tranqüilidade e principalmente a alegria de viver são sensações horríveis. As famílias ficam destroçadas. Se não houver união e uma base muito forte, dificilmente essa família consegue se reerguer. Mas esses reveses fazem o ser humano aprender. Dão valor a um simples bom dia de uma pessoa resgatada do mundo das drogas.
Por outro lado, a nossa própria sociedade civil é cúmplice do sustento da “indústria” do narcotráfico. Pois, atualmente, traficantes são exaltados por suas conquistas. Muitos deles chegam a debochar de algumas autoridades governamentais e policiais que ? diga-se de passagem ? se aliam criminosamente com esses bandidos que deveriam ser punidos de maneira exemplar. Infelizmente, no mundo de hoje, as drogas dão dinheiro, fama e reconhecimento. É só sair na noite de Curitiba para fazer tal constatação. O bandido tem carro importado, sempre acompanhado por lindas mulheres, tem entrada livre em muitos locais e, o pior, é respeitado. Até quando nossa sociedade terá que sobreviver com essas inversões de valores? Até quando o que é certo hoje será certo amanhã?
A resposta é simples: basta uma atuação enérgica e consistente do próximo governo, que entra referendado pela confiança popular, para que junto com as pessoas de bem possam conter esse avanço gigantesco do mundo do crime. E o nosso futuro presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, sabe muito bem que esse será um dos maiores desafios de sua gestão. A crença em seu governo existe. Agora resta a ele e sua equipe de governo criarem uma estratégia eficaz e repressora para, no mínimo, contermos a impiedosa e avassaladora expansão do crime, que já destroçou milhares de vidas inocentes no Brasil.
Anselmo Meyer
é editor de Cidades em O Estado