Já virou rotina. Quando a Petrobras autoriza aumento do preço dos combustíveis nas refinarias, o valor nas bombas dispara. Quase todos os postos vendem a gasolina por preço semelhante, sendo acusados de cartelização. Como após a alta, historicamente, o consumo cai, os postos começam gradativamente a reduzir os preços para chamar a clientela. Tem início uma verdadeira guerra entre os estabelecimentos e distribuidoras para não perder mercado. Passam a valer os valores considerados “promocionais”, mas que, segundo os empresários, não representam o preço real – muito menos cobrem os custos operacionais.

Mais uns dias se passam, e os preços continuam baixando. Nesse caso, a alegação costuma ser a prática de dumping (venda abaixo do custo) por parte de distribuidoras. Aumenta a desconfiança de irregularidades no setor, como sonegação fiscal e adulteração de combustíveis. Reclama-se das deficiências da fiscalização, do pouco número de pessoas trabalhando na ANP. O Procon aproveita para encaminhar suspeitas de alinhamento de preços ao Cade, o Ministério Público intervém…

Depois de um tempo, quando menos se espera, num movimento aparentemente combinado, a gasolina amanhece mais cara para os proprietários de automóveis. A explicação, dessa vez, é a recuperação de margens de lucro, que estavam artificiais. E o ciclo se repete novamente. Isso quando a Petrobras não anuncia uma redução no meio do caminho. Essas quedas não chegam na íntegra ao consumidor. Então, dizem que a culpa é do governo, dos impostos, da Cide e não sei mais o que.

É a mesma história da influência do dólar na economia. Quando sobe, o comércio sobe tudo, mesmo os produtos em estoque, usando a desculpa da alta da moeda norte-americana. Já quando o câmbio recua, os preços ficam inalterados. Não dá para dizer que não existem problemas na cadeia dos combustíveis. Como em qualquer segmento profissional, há os que atuam corretamente e os que agem desonestamente. Ou seja, não dá para generalizar as coisas, apontando o dedo para um ou para outro, falando que os postos (todos) participam de cartéis ou que as distribuidoras praticam dumping. É uma gangorra. Quando a situação chega no limite, alguém pressiona do outro lado para movimentar o mercado.

Como jornalista que acompanha a área, cujo objetivo é trazer ao conhecimento do leitor fatos novos, percebo que o assunto “preço dos combustíveis” se tornou repetitivo. As notícias novas não são diferentes das velhas. Mas o aperto dado pelo presidente Lula e pela ministra Dilma Roussef no segmento, ao que consta, está dando resultados. O litro de gasolina, que já chegou na casa de R$ 2,40, este ano, em Curitiba, agora pode ser encontrado ao redor de R$ 1,85. Resta saber se a gangorra já encostou no chão, porque, como na brincadeira infantil, sempre tem alguém sentado na outra ponta tentando mostrar que é mais forte.

Olavo Pesch é repórter da editoria de Economia de O Estado.

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