Natal da esperança

No 11.º Concurso Internacional de Presépios Natalinos de Curitiba existe um de simplicidade inaudita: um personagem barbudo, sentado numa tosca cadeira, embala nos braços um arremedo de criança, envolta em panos com as cores da bandeira brasileira. É Luiz Inácio Lula da Silva como que a abraçar o significado de toda a simbologia cristã construída em torno da data, transmitindo ao Brasil-menino a mensagem promissora da esperança, da salvação, da concórdia e da boa vontade entre os homens.

Descontado o evidente exagero na paródia inscrita no concurso de presépios, de fato, um clima especial envolve esta comemoração do nascimento do Salvador, como quer a antiga lenda, numa estrebaria, em meio aos animais, pobre de tudo. Há neste ano mais do que simples apelos comerciais nos ares e lares brasileiros. Dentro de poucos dias assume um novo governo eleito exatamente com a promessa de dias melhores, muitas mudanças e esperanças. A primeira delas, dar de comer a tantos famintos e excluídos, numa sociedade que contradiz em tudo o espírito natalino de paz e boa vontade na repartição. Sem pão não há paz. Nem aqui, nem em Belém, nem em lugar algum.

A preocupação excessiva com o pão, entretanto, também contraria a mensagem natalina do Salvador que, em passagens outras de sua vida terrena procurou ensinar aos homens a serem simples e despojados como as aves que, sem amealhar riquezas ou reservas, todos os dias encontram o que comer guiadas pela mão do Criador. Aliás, esta é também a mensagem que vem do comando supremo da Igreja Católica, na voz do cansado papa João Paulo II. Ele decidiu criticar o apelo consumista em que foram transformados esses dias de festa, onde o que vale é o “ter” e não o “ser”.

“A simplicidade do nascimento de Cristo não combina com a imagem do Natal que, muitas vezes, é apresentado de maneira insistente pelos publicitários”, disse o líder da Igreja Católica, apelando para uma reflexão mais serena sobre o real significado da data. É oportuno, disse o papa, privilegiar, nessas festas, “gestos que manifestem solidariedade e amparo aos pobres e aos mais necessitados”. Para isso, em vez do burburinho atropelado pela ânsia de consumir (que mais evidencia a ânsia de não ter o que consumir), é preciso dar lugar ao “silêncio interior”.

Neste Natal da esperança, fazemos nossas também essas sábias palavras para levar a todos nossos leitores a mensagem de fraternidade e de solidariedade. Mais que isso, temos a pretensão de desejar que esse espírito não seja uma oportunidade passageira em que, virado o calendário, se dissipe na lembrança de todos para dar lugar à competição e ao egoísmo de sempre. Uma sociedade mais solidária, mais igual – como a disse querer Lula, o presidente eleito – independe da figura de Papai Noel. Este aparece apenas nessa época para depois guardar barbas e óculos num saco que será usado outra vez somente no ano que vem. A solidariedade pregada pelo teatro simples da manjedoura deve ser uma ação constante. Pelo menos enquanto existir esse fosso quase infinito entre miseráveis e homens sem boa vontade de dividir a sorte do bem-estar e da riqueza com que a vida lhes presenteou. Bom Natal a todos!

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