O "não" venceu em todos os Estados no balanço parcial. O resultado marca uma virada espetacular, muito superior à projetada pelos institutos de pesquisa – a vantagem do "não" tinha sido estimada em 10 pontos porcentuais. Em pesquisa de meados de setembro, o ‘sim’ tinha larga vantagem: 72% a 24%.
O referendo, no qual tiveram direito a voto 122 milhões de eleitores, teve um índice de abstenção superior ao esperado. Na parcial do TSE, o porcentual era de 20,93% – o presidente do tribunal, Carlos Velloso, estimara esse índice em 15%. Votos nulos representaram 1,68% do total e os em branco, 1,42%.
Praticamente não houve panfletagem de boca-de-urna nem incidentes. Até as 15 horas, 1.995 urnas eletrônicas haviam sido substituídas. O número representa 0,62% das 323.368 sessões eleitorais do País. O TSE informou que em 146 sessões ocorreu votação manual.
Previsto no Estatuto do Desarmamento, sancionado em dezembro de 2003, o referendo diz respeito a um único artigo da legislação, o 35. Com a provável vitória do ‘não’, fica mantido o comércio de armas e munição no País.
Mas o estatuto tem normas rigorosas para a concessão do direito à posse de arma e ainda mais duras para o porte, que continuam valendo. As frentes parlamentares criadas para defender o "sim" e o "não" querem agora usar o interesse despertado pelo referendo para fazer uma campanha de esclarecimento sobre o estatuto.
Como a vitória do "não" mantém intacta a legislação atual, o principal efeito do referendo deve ser sentido no plano político-institucional. Integrantes das frentes e políticos afirmaram que o escândalo do ‘mensalão’ e o desgaste do governo Lula interferiram no resultado da consulta popular. O vice-presidente da Frente Parlamentar por um Brasil sem Armas, deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE), disse que o "momento de purgação" provocado pela crise prejudicou a campanha do "sim".
Outro defensor do "sim", o secretário estadual de Governo do Rio, Anthony Garotinho (PMDB-RJ), disse que o governo federal se omitiu na questão da segurança pública. "O governo tinha de tomar uma posição, mas é mais fácil jogar (a responsabilidade) sobre o povo."
Para o ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, a avaliação de que o desempenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve sob julgamento é equivocada. "A eleição que vai julgar o governo é a de 2006."
Criticado pelo custo, a previsão do TSE é gastar R$ 274 milhões, o referendo recebeu elogios hoje do ponto de vista institucional. Autoridades defenderam a realização periódica de consultas populares. Velloso, por exemplo, propôs um referendo sobre a liberação ou não do aborto em casos de fetos sem cérebro. "Deveríamos ter referendos de quatro em quatro anos no Brasil, quando das eleições municipais", disse.
Além do referendo, hoje foi o último dia da campanha do desarmamento. Levantamento do Ministério da Justiça informou que até o início do dia, haviam sido recolhidas 464 mil armas entregues por cidadãos.