"Não vou sair daqui até encontrarem meu filho", disse ontem (15) Elenilda Adriano da Silva, de 40 anos, sentada à beira da cratera aberta com o desmoronamento nas obras da Linha 4 do Metrô. Elenilda é mãe de Wescley da Silva, de 22 anos, cobrador de uma van soterrada no acidente. Desesperada com as inúmeras tentativas sem sucesso de resgate do microônibus e com o descrédito geral de que seu filho ainda estivesse vivo, ela fez a única coisa que podia: mostrou a todos que não perderia a esperança. "Sei que ele está vivo", dizia, 72 horas depois do acidente. Elenilda ficou sentada na margem do buraco das 17 horas de domingo até as 16 horas de ontem.

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Psicólogos, assistentes sociais e a família tentaram, várias vezes, tirá-la de lá. Ela não quis. No fim da tarde de ontem, quando os bombeiros confirmaram que haviam localizado um corpo dentro da van, Elenilda resolveu ir até o hotel para tomar um banho. Disse que precisava se arrumar para receber o filho. O corpo encontrado, porém, era de uma mulher. "Minha irmã não aceita a idéia de que meu sobrinho esteja morto", disse Margarete Araújo, de 47 anos, irmã de Elenilda.

Wescley era casado. Sua mulher, Thaís Ferreira, grávida de oito meses, passou mal à noite e teve de ser hospitalizada. A mãe, a mulher, as tias e os sobrinhos do cobrador esperavam notícias na tenda armada para abrigar os familiares das vítimas próximo ao local das buscas. "Só um milagre fará ele sair vivo", desabafou Margarete. O pai de Wescley, José Jailson Ferreira da Silva, de 43 anos, que mora em Natal, chegou à cidade e já apareceu na tenda.

Por volta das 20h30 de ontem, o padre Carlos Eduardo dos Santos, da Paróquia de Nossa Senhora de Mont Serrat, também se juntou aos familiares de desaparecidos. Santos é o mesmo que rezou a missa da abertura dos trabalhos de construção da Linha 4, no Largo da Batata, em 2005.

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Motorista

Enquanto os esforços dos bombeiros estão focados no resgate da van, os familiares do motorista de caminhão Francisco Sabino Torres, de 46 anos, ficam a cada dia mais desolados. "O caminhão do meu pai caiu no outro lado do buraco e ninguém procura", diz Kelly Torres, filha de Francisco. O motorista era casado havia 20 anos com a dona de casa Maria Sinhazinha Torres, com quem teve três filhos: Kelly, de 19 anos, Adilson, de 16, e Danilo, de 14. Eles moram em Francisco Morato, na zona leste de São Paulo.

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Quando trabalhava de dia, Francisco chegava em casa às 20 horas. Como na sexta-feira ele não chegou, a mulher ligou para a obra. "Disseram que ele estava bebendo no bar." Ela esperou até 1 hora de sábado, quando foi levada ao local do acidente por uma amiga. "Ninguém acreditava que ele estava dentro do buraco", relatou Maria. "Só acreditaram quando um colega de trabalho disse que viu ele e o caminhão caindo no buraco.

Ontem, após reclamar pessoalmente para o governador José Serra (PSDB) que não há buscas no lugar provável da queda do corpo do marido – lado oposto ao da van – ela ouviu dele que, oficialmente, há apenas quatro desaparecidos. Francisco não entrou na conta do governador. Serra se baseia apenas nos registros de Boletins de Ocorrência sobre o acidente, feitos no 14º Distrito Policial, em Pinheiros. Informada disso, Maria foi, auxiliada por parentes, registrar o desaparecimento do marido no 14º DP. "Ninguém me falou que tinha que fazer o boletim de ocorrência para procurarem meu marido," contou ela.