Dezessete dias depois do acidente com o avião da TAM, o presidente Lula, em reunião com ministros e líderes partidários, confessou que estava mal informado sobre a gravidade e extensão do caos aéreo, que já durava dez meses, e o último episódio fora uma terrível catástrofe, matando duas centenas de pessoas. ?É como um paciente que não soubesse a gravidade da doença e aí, quando vê, está com metástase no corpo todo?, disse o presidente, comparando o problema a um câncer que se espalha pelo organismo e resulta numa situação irrecuperável. Um paciente terminal.

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Foi a primeira admissão pública de que o governo não tinha noção da gravidade do problema. Seu diagnóstico, até então, era de que tudo resultara de fatores como a quebra da Varig, rebelião dos controladores de vôo, acidente da Gol e outros importantes, mas que não justificavam a infecção generalizada que já então ameaçava a autoridade e o conceito do governo.

Poucos dias antes, o presidente chegou a dizer: ?Não vamos confundir o acidente do avião da Gol com o Legacy com um problema dos aeroportos, até porque eles se chocaram no ar?. Lula voltou a atribuir o que chamou ?problemão? aos governos anteriores, pela falta de planejamento e investimentos. O ministro Waldir Pires foi exonerado de maiores responsabilidades, embora titular da pasta da Defesa, sob cuja jurisdição deveria funcionar todo o sistema aéreo. E o preservou enquanto pôde, até que a crise se agravou e foi obrigado a dispensá-lo para que assumisse, com mais poderes e a missão de agir, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim.

A primeira impressão do episódio é de que o presidente Lula estava por fora. Isso porque não parecia dar ao problema do caos aéreo a importância que tinha e era evidente a toda a nação. Ainda porque buscava isentar-se e ao seu governo de responsabilidades, como se ao Executivo federal não coubessem as providências cautelares que teriam impedido o caos, como também as que viessem a buscar a correção dos problemas antes dos trágicos desastres e da balbúrdia em que se transformou todo o sistema.

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Descobriu-se então que em 2002, quando era candidato a presidente da República, falando como opositor de FHC, Lula fez publicar um artigo sob o título ?Morte anunciada do transporte aéreo?. O texto, que não poupava FHC e seu governo, foi publicado justamente em ano eleitoral. Lula venceu as eleições depois de ter perdido em 1989, 1994 e 1998. Já agora, na reunião realizada no Palácio do Planalto, reconheceu que não tinha noção da dimensão dos problemas e dificuldades que existiam no setor aéreo. Memória curta? Ou o artigo publicado era mais uma das críticas e acusações de oposição ao governo, com objetivo meramente eleitoral. É bastante comum os oposicionistas, quando assumem, também não fazerem o que reclamavam antes dos governantes. Ou agirem com a mesma ineficiência e incúria. Provam assim que é mais fácil ser oposição que governo. Há quem entenda que desta vez, como em diversas outras, houve uma confissão de que o governo pouco sabe e nenhuma responsabilidade assume, como aconteceu em tantos escândalos, que chegaram a adentrar o Palácio do Planalto, mas não conseguiram contaminar seu comando.

Preferimos dar credibilidade à versão de que nessa história toda houve um ?ghost writer?. A expressão em inglês, internacionalmente conhecida e usada, refere-se aos ?escritores fantasma? que fazem artigos e discursos para políticos. Estes assinam e aparecem perante a opinião pública como seus verdadeiros autores. Na realidade, assessores escreveram. E, desta vez, diante de um problema real e de eclosão iminente como o caos aéreo, o ?ghost writer? de Lula escreveu com muita propriedade sobre a ?Morte anunciada do transporte aéreo?. Só que na azáfama de candidato, Lula assinou sem ler e, nem mesmo depois de tomar posse no cargo de presidente, preocupou-se em tomar conhecimento do que em seu nome haviam escrito nos jornais. Acabou sendo tomado de surpresa pelo apagão aéreo. Nem escreveu, nem leu e o pau comeu.

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