A economia, mais propriamente o setor bancário, assoalhada pelo espantoso lucro registrado pelos maiores bancos no segundo trimestre do ano, arrebata do sistema político-partidário a prerrogativa de postar-se perante a opinião pública para ressaltar que não há empecilhos na trilha institucional.
O discurso otimista partiu do presidente do Bradesco e da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Márcio Cypriano, para quem não subsiste a mais remota possibilidade do processo de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A fala foi registrada esta semana, em almoço na Federação do Comércio do Estado de São Paulo, na presença do ministro Luiz Fernando Furlan.
Cypriano passou um claro recado aos interessados no fortalecimento desse foco de discórdia e agitação do panorama político, ao elogiar o desempenho da economia brasileira, puxado nesse momento pelo lucro dos bancos privados e públicos, bem assim da Companhia Vale do Rio Doce e da Petrobras.
Navegando em mar tranqüilo, os principais operadores da economia sentem-se na obrigação de proclamar que qualquer tentativa de conturbação da ordem política não será bem recebida e tampouco estimulada. ?A economia está muito boa e é superior a tudo isso?, garantiu o presidente do Bradesco, que foi peremptório: ?Não vai ter impeachment?.
Não se poderia imaginar posição diferente de executivo com a responsabilidade de presidir o maior banco privado do País e a entidade corporativa do setor, tendo em vista o gigantesco ganho realizado nos últimos três meses, fruto direto da ortodoxia política do governo Lula, máxime, da manutenção de elevadas taxas de juros.
Assim, a retaguarda, que tanta falta faz ao presidente no auge da crise moral e ética do governo e do sistema partidário, é prontamente fornecida pela poderosa estrutura dos bancos, mediante seu representante mais autorizado.
De fato, é preciso reconhecer o múltiplo esforço para blindar a pessoa do presidente da República, à vista das amargas conseqüências que decerto viriam à tona com seu impedimento. Mesmo os partidos de oposição, sem abrir mão do direito institucional da crítica, passaram a tratar o assunto com a serenidade exigida de todos os atores.
Vale a pena recordar o truísmo: o Brasil é maior que a crise. Assim seja.