O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, concederam juntos, nesta quinta-feira (25), em Davos, entrevista à imprensa, para afastar especulações sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir o ritmo de queda da taxa básica de juros do Brasil (Selic), cortando o juro básico em 0,25 ponto porcentual, dois dias depois de o governo ter anunciado o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Logo após desembarcarem em Davos nesta tarde, Mantega e Meirelles receberam ordem do presidente Lula para falar com a imprensa o quanto antes a fim de esclarecer a posição do governo em relação ao Banco Central.
Trocando sorrisos, Mantega e Meirelles procuraram mostrar que não há desavenças entre eles. Mantega chegou, inclusive, a defender a autonomia do BC. "O BC é autônomo e funciona melhor assim". No início da entrevista, Mantega salientou que a Selic caiu ontem e isso ajuda o País. "O que atrapalharia seria a elevação dos juros. O crédito está aumentando e a taxa de juro continua caindo. Estamos no caminho certo", afirmou o ministro.
Mantega destacou que a "Selic caiu na medida adequada considerada pelo Copom", acrescentando que o Copom faz uma análise técnica e tem de entregar uma meta de inflação. Essa é a missão do Copom, disse o ministro.
"O importante é que os juros estão caindo e devem continuar caindo nos próximos meses", afirmou. Dessa maneira, segundo ele, o Banco Central vai ajudar o governo a atingir os objetivos do PAC.
O ministro negou que, durante a apresentação do PAC, segunda-feira, tenha feito um pedido público pela queda dos juros. "Fiz apenas uma projeção futura para os juros, mostrando que o mercado, a pesquisa Focus do BC projetam uma queda de juros nos próximos quatro anos", disse ele. "Isso é muito importante".
O ministro enfatizou ainda que não adianta haver crescimento com alta de inflação. "Queremos as duas coisas: crescimento e inflação na meta", afirmou. O grande desafio, segundo ele, é crescimento sem inflação. "E o Copom deu um passo nessa direção" disse Mantega.
Henrique Meirelles, por sua vez, procurou endossar as palavras de Mantega. "O ministro disse com muita clareza o que ele acha", afirmou o presidente do BC. "Temos uma relação absolutamente cordial e bem humorada e trabalhamos em completa sintonia", afirmou.
Ele salientou que a missão básica do Copom é cumprir a meta de inflação. "Essa é a nossa contribuição para reforçar o PAC". Meirelles ressaltou que o presidente Lula, ao apresentar o PAC, disse com muita clareza que o PAC é crescimento com estabilidade e seriedade. "Há uma indicação clara de que o País está no rumo certo para crescer mais. Cada um cumpre com sua parte", frisou.
O presidente do BC disse não ter se incomodado com as declarações do ex-ministro José Dirceu, que hoje, em seu blog na internet, sugere que a sociedade peça a renúncia do presidente do BC.
"Não me importo absolutamente. Vivemos num país democrático e livre, onde qualquer cidadão tem liberdade para criticar o Banco Central", afirmou.
Meirelles, cujo retorno estava previsto inicialmente para este fim de semana, informou que vai antecipar a sua volta para sexta-feira, junto com o presidente Lula.
Após o encerramento do Fórum Econômico Mundial, o ministro Mantega seguirá para Londres, onde manterá contatos com investidores, analistas e autoridades do governo britânico até quarta-feira, dia 31.