Na dívida externa brasileira, que beira um bilhão de dólares, existem duas colunas. Uma refere-se a capital de empréstimos e a outra é de capital de risco. A de empréstimos é a maior e sua alta rotatividade já chegou a criar a expressão pejorativa de ciranda financeira. Dessa ciranda participam também capitais nacionais cujo valor não está dimensionado. Da poupança interna, também uma parte vai para aplicações de risco. Mas é mínima, se buscarmos como sua fonte acionistas anônimos que compram no mercado primário e na bolsa de valores.
Ao contrário do que possa parecer aos menos avisados, o capital de risco é melhor que o de empréstimos. Aquele paga dividendos e este juros. Aquele vira parcelas de empresas, gera impostos, riquezas e empregos. Este sustenta os capitalistas, muitos deles vivendo de juros sem trabalhar, e faz o lucro dos bancos.
Por que de risco? Porque, quando alguém aplica dinheiro em ações de empresas novas ou já existentes, espera ganhos, mas pode ter perdas. Prejuízos que se traduzem por dividendos abaixo dos esperados ou mesmo sua inexistência num ou noutro exercício. Perdas, principalmente, no jogo da bolsa, onde o dinheiro não vai para as empresas, mas apenas as ações trocam de mãos. No mercado primário, os recursos já foram para as empresas. Cada ação é um pedacinho de uma empresa e, na bolsa, muda de dono. Os preços sobem ou descem. Ou ficam no mesmo lugar. Piada! Não, é a pura verdade. Para essas altas e baixas influem condições de mercado, expectativas sobre a empresa cuja ação se negocia, sobre o ramo em que atua e, muito freqüentemente, a especulação.
Como o Brasil precisa de desenvolvimento econômico com empresas capitalizadas, gerando bens e serviços, impostos e empregos, é fácil descobrir que o mercado de capitais, mais que o financeiro, de empréstimos, é importante. Mas o temos pequeno, ínfimo diante das necessidades do Brasil.
Há poucos dias, o Financial Times de Londres, em artigo de Jonathan Wheatley, escreve que Lula e o PT estão aprendendo a amar o capitalismo popular. O mercado em que as ações são o objeto dos investimentos e a bolsa o lugar onde trocam de mãos. Lembrando que no Brasil sempre pareceu improvável que se consolide o capitalismo popular, pois o mercado é criticado pela imprensa e os investidores são vistos com freqüência como predadores.
Mas acrescenta que o PT de Lula, que criticava o mercado de capitais quando na oposição, está aprendendo a amá-lo.
O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, descreveu o mercado de capitais como um propulsor do crescimento econômico e pediu à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), xerife do sistema, que aumente a sua eficiência como fonte de crédito.
Os pequenos investidores estão começando a ver essa tendência. As transações com ações, via internet, de “corretores locais”, com títulos de capital, chegaram a R$ 10,4 bilhões na primeira metade deste ano. No primeiro semestre do ano passado não passaram de 3,7 bilhões.
Mas, por que capitalismo popular? Popular porque esse mercado de ações está acessível a qualquer um, seja rico, remediado ou até pobre. Comprar ações na bolsa é algo acessível a todos e, quem tem pouquíssimo dinheiro, pode pensar em fundos de investimentos, onde as quotas representam a parcela de aplicação e podem ser, unitariamente, de baixíssimo valor. Esse amor ao mercado de capitais é a saída para o desenvolvimento do Brasil. E Lula e seu PT já entenderam isso.