A visita do papa Bento XVI à Fazenda da Esperança – um centro de reabilitação de dependentes químicos, em Guaratinguetá (SP) – mostrou mais uma vez a boa disposição do pontífice. Em uma espécie de teatro ao ar livre, os políticos, como o governador José Serra (PSDB), vestindo terno, suaram sob o sol do meio-dia. Com exceção das autoridades, que ficaram em cadeiras, todos os demais espectadores se sentaram em caixas de papelão. Uma parte era reservada aos internos e aos ex-internos, uma aos voluntários e outra às autoridades.
O papa leu seu segundo discurso na Fazenda da Esperança em exatamente dez minutos. Nesse período, foi aplaudido 13 vezes. Os aplausos foram mais fortes quando Bento XVI afirmou incisivamente que Deus vai "exigir satisfações" dos traficantes de drogas.
Grupos de internos e ex-internos apresentaram espetáculos de dança ao pontífice. Em seguida, cinco ex-viciados em drogas que se trataram na fazenda de Guaratinguetá, inclusive estrangeiros, deram seus depoimentos. A maioria chorou. O papa se manteve circunspecto, observando os jovens. O brasileiro Ricardo Correia de 31 anos, foi um dos que falaram ao microfone. Disse que renasceu "após seis anos no terrível mundo das drogas". "Encontrei o caminho na simplicidade do Evangelho", contou.
Ao todo, segundo os organizadores, 7 mil pessoas participaram da cerimônia. O frei Hans abriu o evento, com um sotaque alemão mais forte que o do papa Bento XVI. "Ficamos muito impressionados com a decisão dele de visitar os excluídos da sociedade", disse o frade, que fez um forte lobby no Vaticano para conseguir a visita do líder máximo dos católicos.
Natureza brasileira
O papa fez a viagem entre Aparecida e a Fazenda Esperança em cerca de uma hora. Dessa vez, não usou o papamóvel. Foi num carro comum, escoltado por 40 motos da Polícia Rodoviária Federal. No caminho, Bento XVI pôde ver de perto parte da natureza brasileira: pastagens verdes, lagos, riachos rasos e, não muito distante, a Serra da Mantiqueira. Até pouquíssimo tempo atrás, o caminho até a Fazenda da Esperança era de terra. Foi asfaltado em tempo recorde, entre fevereiro e o início deste mês – por causa do papa, naturalmente. O governo de São Paulo gastou quase R$ 1,5 milhão na obra.