É interessante tentar identificar, como exercício de imaginação ou adivinhação, quais os arsenais de campanha eleitoral que serão usados por Lula e Alckmin, os candidatos que compõem o quadro polarizado que está se formando para a escolha do futuro presidente da República. Parece provado que a estratégia oposicionista, de reunir denúncias e mesmo provas de atos eticamente reprováveis e mesmo criminosos do atual grupo situacionista, não está dando certo. As grandes massas não estão se mostrando sensíveis a tal tática. A crise política e ética alongou-se demais. Tem componentes muito complicados para o entendimento do eleitorado e o presidente Lula, candidato à reeleição, até melhorou sua retórica popularesca, arrancando aplausos das massas até no descerramento de placas inaugurais de obras chinfrins.
Revela-se inútil o candidato oposicionista buscar a vitória com a exibição pública dos males do atual governo.
O governo Lula, por sua vez, além de se defender sem muita convicção e evidentemente de má vontade, pois considera isso um esforço inútil, multiplica informações sobre resultados econômicos e de programas governamentais muitas vezes discutíveis, mas não discutidos porque sabem seus opositores que a contra-argumentação que apresentarem vai encontrar os mesmos ouvidos moucos de gente incapaz de distinguir onde se esconde a verdade ou onde se exibe a demagogia.
Alckmin já não mais tem tempo para tentar ganhar as eleições apostando na evidência de que seu adversário teria jogado mal e tem um time sem qualificação para jogar bem em um novo mandato. Não adianta falar mal de Lula e de seu governo. Sua munição tem de ser a própria exposição. Mostrar-se ao Brasil e dizer-lhe quem é e quem o cerca. E o que já fez e o que fará se eleito. Uma missão difícil em tão pouco espaço de tempo que falta até o pleito.
De outro lado, as hostes oposicionistas não são constituídas só de vestais. Há o que criticar na atuação do ex-governante paulista, de seus aliados e até de sua mulher, envolvida numa história burguesa de doação de vestidos de alta costura que aceitou, usou e só depois doou a uma entidade de caridade que os recebeu com a maior surpresa. Agora, surge a denúncia de que o governo de São Paulo beneficiou uma revista de uma entidade liderada pelo acupunturista de Alckmin e até que o filho do candidato oposicionista é sócio do beneficiado. Verdade que o filho de Lula não passou longe das maracutaias do governo de seu pai, mas se a coisa for na base do falar mal, neste capítulo há um empate aos olhos da opinião pública.
Nunca eloqüente antes, Alckmin tem a chance de, em poucos meses, se usar apropriadamente os meios de comunicação, procurar vencer a distância que ainda o separa do candidato petista. Mas vai ter de aprender a falar ao povo, atributo em que Lula é mestre, esteja dizendo a verdade ou sofismando. Resta, para fazer algum estrago intempestivo no processo sucessório, o papel que será desempenhado pelo Ministério Público, Polícia Federal e Justiça que, com a CPMI dos Correios nas mãos, certamente não farão nova pizza, como fez o Congresso. No parlamento houve absolvições imerecidas, na base dos acordões.
Na Justiça, mesmo os absolvidos e muitos outros que navegaram no mar de lama que pairou sobre o governo, poderão ser denunciados, julgados e condenados. Será mais difícil a atuação de pizzaiolos. Mas parece certo que, faltando cerca de oito meses para o pleito, o eleitorado inadvertidamente poderá decretar uma ampla prescrição de todos os crimes cometidos.