A expectativa de que o presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, enfrentaria uma grande pressão ao prestar depoimento no Senado americano nesta terça-feira, 10, não se realizou. Apesar da grande comoção em torno da aparição do executivo em Washington — que levou a protestos em defesa da privacidade do lado de fora do Capitólio e filas para acompanhar a audiência do lado de dentro — o executivo está respondendo rapidamente a perguntas pouco aprofundadas sobre a responsabilidade da rede social em proteger os dados pessoais de seus mais de 2,13 bilhões de usuários. A audiência continua em andamento

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No início da audiência, que já dura mais de três horas, os senadores tentavam mostrar que colocariam Zuckerberg contra a parede. “A história da empresa que você criou representa o sonho americano, mas você tem a responsabilidade de não transformar a vida dos usuários em um pesadelo de privacidade”, afirmou o senador republicano John Thune, presidente do Comitê de Comércio, Ciência e Transportes do Senado americano. O depoimento está sendo realizado em conjunto com o Comitê do Judiciário do Senado — o executivo vai enfrentar, ainda, uma nova audiência nesta quarta-feira, 11, com o Comitê de Energia e Comércio da Câmara dos Deputados.

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Zuckerberg iniciou a audiência com expressão angustiada e, de forma quase mecânica, repetiu o mesmo discurso feito em conversa com jornalistas na semana passada, no qual assumiu os erros da rede social ao não antecipar como ela poderia ser usada para o mal. Ele também aproveitou a oportunidade para afastar os rumores de que ele poderia ser retirado do cargo, em virtude do escândalo do uso ilícito de dados pela Cambridge Analytica.

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“Enquanto eu administrar o Facebook, os usuários terão prioridade em relação aos desenvolvedores e anunciantes”, disse o executivo, que reforçou as formas positivas como a rede social é utilizada. “Quando olharmos para trás daqui a alguns anos, vamos ver que dar voz às pessoas teve um impacto positivo no mundo.”

Mas logo que as perguntas começaram, Zuckerberg pareceu mais tranquilo, em alguns momentos, até sorriu, sinalizando que estava mais confortável. A primeira vez em que isso aconteceu foi quando o senador republicano Orrin Hatch fez uma das perguntas mais básicas da oitiva, na qual questionou o executivo sobre como o Facebook ganhava dinheiro, já que não cobra nada de seus usuários. “Nós exibimos anúncios, senador”, respondeu Zuckerberg, enquanto era possível ouvir risadas ao fundo na sala.

A falta de profundidade dos senadores sobre como o Facebook funciona, sobre as tecnologias usadas pela rede social para conter abusos, como inteligência artificial, têm ficado evidentes em vários momentos e foram um dos fatores que contribuíram para que a audiência perdesse força. Em diversos questionamentos, os senadores prosseguem com cautela ao formular as perguntas e, com tempo limitado a quatro minutos para falar com Zuckerberg, muitos deles terminam ouvindo explicações sobre como o funcionamento da plataforma.

Isso aconteceu, por exemplo, quando o republicano Ted Cruz sugeriu que o Facebook criasse uma ferramenta para que os usuários pudessem baixar todos os dados pessoais compartilhados na rede social. “Já fizemos isso”, afirmou Zuckerberg, lembrando que o recurso está em funcionamento na rede social desde 2010 — nas últimas semanas, a rede social melhorou o acesso aos seus controles de privacidade e, agora, é possível baixar as informações classificadas por categoria.

Até agora, foram raros os momentos em que Zuckerberg ficou perto de ser encurralado. Isso aconteceu nas falas dos democratas Dick Durbin, Richard Blumenthal e Brian Schatz. O primeiro questionou Zuckerberg se ele revelaria o hotel em que estava dormindo em Washington, ao que Zuckerberg afirmou que não compartilharia essa informação publicamente; o segundo trouxe cartazes com termos de uso e frases antigas do executivo sobre erros, reforçando que Zuckerberg já pediu desculpas por erros anteriores; já o terceiro questionou por que o Facebook diz que seus usuários são donos de seus dados, se é a empresa quem fatura com eles.

Doações

Outro fator que gerou polêmica em relação à audiência foi o fato de que vários senadores questionaram Zuckerberg sobre o escândalo de privacidade estão entre os maiores beneficiários de doações feitas por funcionários do Facebook. Os membros do Comitê de Comércio, Ciência e Transportes, que interrogou Zuckerberg nesta terça-feira, recebeu US$ 369 mil em doações ligadas aos Facebook, segundo dados do Center for Responsive Politics, obtidos pelo jornal americano USA Today.

Já o Comitê de Energia e Comércio do Senado dos EUA, que vai questionar Zuckerberg nesta quarta-feira, 11, é o que mais recebeu dinheiro de funcionários da empresa. Segundo o Center for Responsive Politics, este comitê recebeu perto de US$ 381 mil em contribuições ligadas ao Facebook desde 2007.

Reação

O desempenho de Zuckerberg animou os investidores. As ações do Facebook ficaram em alta ao longo de toda a tarde e fecharam o pregão negociadas a US$ 165,04, em alta de 4,5%. O desempenho positivo das ações continuou mesmo nas negociações após o fechamento do mercado. A empresa encerrou o dia avaliada em US$ 479,4 bilhões – US$ 58 bilhões abaixo do que valia na época da publicação das reportagens que revelaram o escândalo da Cambridge Analytica.