Quem visita o zoológico de Curitiba nesta época do ano pode observar uma série de filhotes de aves e mamíferos. Os nascimentos tiveram início no último mês de agosto e, até agora, o local já ganhou cerca de cinqüenta novos habitantes. Até o final de fevereiro, quando termina o período reprodutivo, são esperados outros trinta nascimentos.
?Muita gente acredita que os zoológicos são apenas depósitos de animais. O nascimento de filhotes mostra que a crença é errônea e que os recintos utilizados como abrigo são adequados?, explica o veterinário do zoo da capital, Manoel Lucas Javorouski. ?Além de propiciar lazer, educação ambiental e pesquisa, sempre que ocorre um nascimento, os zoológicos contribuem com a preservação das espécies, ajudando na conservação de material biológico.?
Um dos nascimentos mais comemorados foi o do filhote do casal de bisões europeus Tytan e Tyla, o pequeno Tyranus, que veio ao mundo no último dia 8 de outubro. O filhote é o primeiro representante de uma geração totalmente curitibana de bisões, isto é, descendente de animais nascidos na cidade. ?Os avós de Tyranus foram trazidos de São Paulo, mas seus pais e sua tia por parte de mãe – que chama Tyrina, também vive no zoo de Curitiba e ainda não se reproduziu – nasceram na capital paranaense.?
Em todo mundo, existem cerca de 3 mil bisões europeus. O maior rebanho em área natural vive em um parque nacional da Polônia e é composto por 1.166 indivíduos. Os animais nascidos em todo mundo são registrados através de padrões internacionais, que ajudam a manter um banco de informações genéticas e a evitar cruzamentos consangüíneos. Em Curitiba, todos os que nascem recebem obrigatoriamente nomes com as iniciais ?Ty?.
Aoudades
Ameaçadas de extinção e, em pequeno número na natureza, o nascimento de aoudades – espécie de cabra montês também chamada de cabra da Argélia ou cabra de punho – é sempre comemorado, embora não seja considerado raro na capital. Nos meses de agosto e setembro, nasceram quatro filhotes de três fêmeas diferentes, mas apenas três sobreviveram (um macho e outros dois que ainda não foram contidos para determinação de sexo).
?O zoológico de Curitiba mantém um rebanho de aoudades antigo, que teve origem inicialmente em São Paulo. Esses animais vivem em pontos isolados da África e, por terem pequena área de distribuição, estão ameaçados de desaparecer do planeta. Por isso, é muito bom que eles estejam conseguindo se reproduzir?, comenta o veterinário.
Aves
O nascimento de novas aves proporciona um colorido a mais ao zoológico. Os filhotinhos, aparentemente bastante desengonçados e franzinos, encantam os visitantes. É o caso de dois pequenos gansos do Orinoco, nascidos nos últimos dias 2 e 8. ?Temos um único casal de gansos do Orinoco. Eles se reproduziram pela primeira vez há um ano, mas o filhote morreu. Dessa forma, a sobrevivência dos dois novos pássaros foi bastante festejada.?
Também é significante o nascimento de dois casais de jacutinga (aves ameaçadas de extinção que, em liberdade, vivem na Mata Atlântica), cujos filhotes estão recebendo tratamento em uma incubadora artificial mantida no Passeio Público, também em Curitiba, e de um papagaio verdadeiro cuja mãe é cega e pela primeira vez se reproduziu. ?O filhote do papagaio comprova que a espécie consegue se reproduzir mesmo quando um indivíduo tem alguma deficiência física.?
Dificuldades de sobrevivência
Apesar de diversas espécies se reproduzirem bem em cativeiro, nem todos os filhotes conseguem sobreviver. Nos dias 27 e 29 de setembro, no Passeio Público, nasceram dois filhotes de guará rubra, uma ave que chama a atenção pelas penas bastante vermelhas, e que vive no Norte da América do Sul. Porém, cerca de dez dias depois, os dois animais morreram ao cair do ninho.
?Temos três guarás rubras no Passeio, sendo um macho, uma fêmea e outro de sexo indeterminado. É a segunda vez que os pássaros se reproduzem no local e os filhotes morrem dias depois, ao cair do ninho. Isto também acontece na natureza, mas como os pássaros têm hábitos coletivos e vivem em bandos, os falecimentos não são tão sentidos?, diz o veterinário Manoel.
Os funcionários do Passeio Público até tentaram evitar que as mortes ocorressem, mas não obtiveram sucesso. Dias após a eclosão dos ovos, foi colocada uma proteção artificial em baixo do ninho, considerado raso, frágil e desprotegido. Porém, a estrutura acabou afugentando os pais e precisou ser retirada.
?Quando colocamos a proteção, os pais se afastaram do ninho e deixaram de alimentar os filhotes, que conseqüentemente morreriam de fome. O casal só se aproximou novamente dos filhos depois que a proteção foi retirada.? Em cativeiro, as guarás se alimentam de ração especial para aves, peixe picado e camarão morto. No Paraná, elas podem ser encontradas em liberdade na região do Superagüi, no litoral. (CV)
Chimpanzés podem premeditar ações
O habitante mais velho do zoológico é uma fêmea de chimpanzé conhecida pelo nome de Imperatriz. Nascida no ano de 1966 em um circo, onde era exibida em espetáculos, ela chegou ao zoo em 1995, e vive na companhia de um chimpanzé macho chamado Johnny, que tem 18 anos de idade, e foi trazido de São Paulo.
Originários da África, os chimpanzés são considerados bastante inteligentes, capazes até mesmo de premeditar ações.
Em Curitiba, os animais chegam a interagir com seus tratadores. ?Muitas vezes, conseguimos fazer com que eles troquem pedras e pedaços de pau por outros objetos e alimentos?, conta o tratador José Francisco de Jesus.
Acostumadas a ver chimpanzés em programas de televisão ou mesmo em circos, a maioria das pessoas acredita que eles são mansos. Porém, ao contrário, eles são extremamente ferozes. Com quatro dentes caninos grandes, mãos e pés extremamentes habilidosos e força equivalente à de cinco homens, são considerados os animais mais perigosos em caso de fuga, superando até mesmo os leões.
Para garantir a segurança dos visitantes, o zoológico da capital os mantém em recinto em formato de ilha e com cerca elétrica. ?Se um tratador esquecer um chaveiro com vinte chaves penduradas perto da jaula de um chimpanzé, o animal é capaz de experimentar todas, abrir a porta da jaula e fugir. Por isso, todo cuidado é pouco.?
Em cativeiro, Imperatriz e Johnny têm uma alimentação bastante variada, composta, entre outras coisas, de frutas, vegetais cozidos ou crus, folhas, frango cozido, cebola e polenta. (CV)
Expectativa na reprodução de girafas
A reprodução de duas girafas – que receberam o nome de Pandinha e Piekarski – é aguardada ansiosamente no zoológico. Porém, veterinários e biólogos têm pouca esperança que o nascimento de um filhote do casal aconteça.
?Não falta entrosamento entre o macho e a fêmea. Entretanto, suspeitamos que Piekarski tenha baixa qualidade espermática, pois tratadores já viram os dois animais cruzando, mas até agora a fêmea não ficou prenha?, informa Manoel Lucas.
Pandinha nasceu em Curitiba, há cerca de 14 anos, de um casal de girafas já mortos. Piekarski foi trazido da Polônia. Os dois estão juntos desde 1997 e encantam adultos e crianças devido à altura – ele tem cinco metros e ela quatro – e graciosidade, sendo um dos principais atrativos do zoo.
Bastante dóceis, as girafas se aproximam do público que as observa. Chegam a comer na mão dos tratadores. Também originárias da África, onde vivem em áreas de savana, elas se alimentam, em cativeiro, de folhas, alfafa, ração bovina, sal mineral, escarola, limão e cebola. A comida é fornecida de forma balanceada, duas vezes ao dia. (CV)
Atenção especial ao papagaio
Ave bastante ameaçada de extinção, o papagaio-de-cara roxa vem ganhando atenção especial dos funcionários do zoológico. Há cerca de três anos, foram construídos no local recintos exclusivos para a reprodução da espécie.
No total, são sete recintos. Seis deles abrigam casais e um abriga um papagaio macho ainda sem parceira. Até agora, os animais não geraram filhotes, mas diversas tentativas estão sendo realizadas.
Periodicamente, são coletadas fezes para exame de dosagem hormonal e feitos remanejamentos de parceiros. Caso haja cruzamentos, os ovos demorarão cerca de 28 dias para eclodir e os filhotes receberão tratamento especial.
Os papagaios-de-cara-roxa vivem em área de Mata Atlântica e estão sob sério risco de extinção em função de desmatamentos e tráfico de animais. Eles ainda podem ser encontrados no litoral do Paraná -onde, de acordo com a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), existem 4,9 mil indivíduos – Norte de Santa Catarina e Sul de São Paulo. (CV)
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