O Zimbábue é hoje um dos poucos países sem moeda própria. Nos últimos anos, os zimbabuanos já estavam acostumados a carregar sacolas de dinheiro para ir ao mercado sem ter certeza sobre a quantidade de alimentos que trariam para casa por causa da hiperinflação – que chegou a 230.000%, a taxa mais alta do mundo. Agora, boa parte deles voltou ao mercado de troca. Em vez de dinheiro, enchem suas sacolas com produtos como farinha e arroz – ou o que estiver sobrando em casa – na expectativa de trocá-los por outros bens e serviços.
A circulação da moeda nacional foi suspensa oficialmente em abril, mas na prática o dólar zimbabuano já havia deixado de ser usado em janeiro, quando o governo liberou as moedas estrangeiras. Nos últimos meses, os mercados de troca proliferaram-se principalmente no interior. Na capital, muitos utilizam desde euros e dólares norte-americanos (com os quais são pagos os funcionários públicos), até pulas, de Botsuana, e rands, da África do Sul.
Se o comprador insistir, os comerciantes aceitam até real. “Você é brasileira? Pode certificar para aquele vendedor qual o valor do real em relação ao dólar?”, pediu um turista brasileiro à repórter do jornal O Estado de S. Paulo ao negociar a compra de duas peças de madeira por R$ 40 em um mercado de artesanato em Victoria Falls. Depois de conferir com a “segunda fonte” a cotação do real, o vendedor fechou o negócio.
Com a economia do Zimbábue destroçada por anos de isolamento internacional e a má gestão do ditador Robert Mugabe, produtos simples viraram artigos de luxo. Ir a um mercado com uma caneta Bic ou um elástico de cabelo, por exemplo, é garantia de oportunidades de negócio.
A suspensão da moeda foi anunciada após inúmeras tentativas frustradas do governo de conter a hiperinflação. Em julho de 2007, foi lançada a cédula de 200 mil dólares zimbabuanos que, no mercado paralelo, era cotada a US$ 1. Em maio de 2008 já havia a nota de 500 milhões. Em julho do mesmo ano foram lançadas cédulas com valores a partir de 100 bilhões. Desde abril, o dólar zimbabuano virou souvenir. A nota de 50 bilhões pode ser comprada pelos turistas por US$ 1.