Assinado entre Portugal e Espanha no dia 7 de junho de 1494, o Tratado de Tordesilhas definia na teoria os limites das terras brasileiras a oeste. Na prática, mesmo com as incursões dos portugueses rumo ao interior, só a construção de Brasília – concluída em 1960 – começou a revogar esse acordo.
Até então, quase tudo no Brasil acontecia a leste da qüincentenária linha. Essa constatação inspirou o mais recente projeto do fotógrafo curitibano Zig Koch, a exposição Brasil de Tordesilhas, que foi aberta em julho no Congresso Nacional, passou pelo Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e permanece de hoje ao dia 15 de setembro no Memorial de Curitiba. Depois, a mostra segue para São Paulo e Recife.
São 62 fotografias pinçadas pela curadora Dirce Carrion a partir de 10 mil imagens captadas em mais de 60 dias de viagem por 14 estados, totalizando 40 horas de vôo em sete aeronaves diferentes. Ela conta que o que norteou a escolha das fotos “foi um critério de semelhança visual, mais do que qualquer seqüência geográfica ou temática. O resultado apenas confirma que o Brasil, em toda a sua diversidade e dimensão, mantém a unidade e a similaridade visuais”, ressalta.
“A curiosidade pelo Tratado de Tordesilhas me acompanha desde a infância, me instigando a conhecer melhor o Brasil”, conta o fotógrafo. “Essa concentração do desenvolvimento brasileiro a leste de Tordesilhas me impulsionou a compor uma documentação fotográfica de um Brasil anterior ao descobrimento”. Ele diz ter investido, prioritariamente, na visão aérea por possibilitar uma “abstração do detalhe e um entendimento mais claro do todo através das grandes paisagens: Com essa linguagem, tentei mostrar e entender como os primeiros europeus viram o Brasil e onde viviam seus moradores de então”.
Foi uma missão difícil: “As mudanças foram muito grandes em mais de meio milênio de ocupação. Muitas referências simplesmente não existem mais, assim como boa parte das tribos indígenas, das florestas e dos magníficos animais que nelas viviam”, explica Zig Koch. Mesmo assim, ele conseguiu capturar tanto recantos intocados como a voracidade da ocupação humana. “Espero que esta exposição nos ajude a redescobrir o Brasil, para que possamos vencer as linhas imaginárias que nos separam da nossa própria essência, nos impondo limites alheios à nossa cultura e à nossa unidade. Cabe-nos desatar os nós e abrir os olhos, mirando nossa imensa e única beleza, enfrentando nossos desafios e dificuldades, para buscarmos o nosso ideal de nação”. Precisa dizer mais alguma coisa?