A diplomacia passou ontem por seu primeiro teste de fogo em Mar del Plata, na cúpula de chefes de Estado de países ibero-americanos, primeira reunião regional desde que o WikiLeaks começou a vazar documentos secretos dos EUA.
Além das desconfianças mútuas, a cúpula começou esvaziada, já que o primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, o presidente boliviano, Evo Morales, o venezuelano Hugo Chávez e o nicaraguense Daniel Ortega não viajaram à Argentina. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ontem e reuniu-se com seu colega mexicano Felipe Calderón e com o rei Juan Carlos, da Espanha. À noite, participaria do banquete que a presidente Cristina Kirchner ofereceria aos convidados. Visivelmente irritada pelo esvaziamento da cúpula, ela foi uma das últimas a desembarcar em Mar del Plata.
“O tema (WikiLeaks) estará na agenda, mas não acho que complique as relações entre os países”, disse o secretário-geral ibero-americano, Enrique Iglesias. Informações extraoficiais, porém, indicam que Equador, Venezuela e Bolívia pretendem que a cúpula se transforme no primeiro foro internacional a criticar os EUA e seus documentos diplomáticos. No entanto, Peru, Colômbia e Chile querem preservar a relação com os EUA, mesma posição do governo argentino.
Na quinta-feira, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, telefonou para Cristina e pediu desculpas – segundo documentos divulgados, Hillary teria pedido a diplomatas americanos relatos sobre a “saúde mental” da presidente da Argentina.
Ontem, o presidente do Equador, Rafael Correa, apresentou um projeto para que os países ibero-americanos adotassem a cláusula democrática da Unasul. Os chanceleres, porém, optaram por uma versão mais branda e decidiram que, em caso de golpe, o país-membro será apenas expulso do grupo.
Hoje na cúpula, Cristina pretende conseguir apoio para a reivindicação argentina sobre as Malvinas. As ilhas foram controladas pelo país entre 1820 e 1833, mas, desde então, pertencem à Grã-Bretanha. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.