Foto: Lucimar do Carmo |
Os pesquisadores dizem que o transmissor, que custa US$ 3,5 mil, deve funcionar entre três e três continua após a publicidade |
Pela primeira vez em toda história, os satélites brasileiros estão sendo utilizados para monitoramento de animais silvestres. Graças à combinação de esforços de três instituições – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) – os equipamentos passaram a acompanhar os vôos do maior gavião de toda América do Sul e Central: o gavião-real (Harpia harpyja), também chamado de harpia ou uiraçu.
Os trabalhos integram um projeto de conservação da ave, desenvolvido há cerca de cinco anos pelo Inpa, e tiveram início no ano passado. Em julho deste ano, um gavião-real de quatro meses de idade foi capturado em um assentamento do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em Parintins (AM) e recebeu um radiotransmissor equipado com GPS para rastreamento de sua movimentação.
?Por enquanto, temos apenas um animal sendo monitorado. Porém, a expectativa é de que, até o final deste ano, outros dois passem a ter suas movimentações acompanhadas no Pantanal e em uma área de Mata Atlântica presente no sul da Bahia. O objetivo será verificar se existem diferenças de hábitos entre as aves que vivem em locais diferentes?, comenta o pesquisador da divisão de sensoriamento remoto do Inpe, José Eduardo Mantovani.
A ave que recebeu o GPS é considerada subadulta, isto é, ela tem o porte de um gavião-real adulto, mas ainda é um filhote. Para capturá-la, os pesquisadores observaram o ninho durante diversos dias, até que os pais do filhote se afastassem e não houvessem riscos de ataques. ?O ninho estava em uma castanheira de 32 metros de altura. Quando o pássaro foi levado para baixo, teve, além do GPS colocado, amostras de saliva e sangue coletados. Também recebeu um microchip de identificação debaixo da pele e duas anilhas (uma do Ibama e outra do Inpa)?.
O GPS foi colocado no dorso do animal, como se fosse uma mochila. O equipamento pesa 95 gramas e não deve gerar grandes incômodos ao indivíduo. Os pesquisadores dizem que o transmissor para satélite, que custa US$ 3,5 mil, deve funcionar entre três e três anos e meio. Posteriormente, serão feitas tentativas de recaptura do pássaro para que outro GPS seja colocado.
?A expectativa é de que o filhote deixe o ninho neste mês de setembro. Quando ele começar a se deslocar, poderemos saber com exatidão o tamanho da área que ele ocupa. No caso da realização de um plano de manejo voltado ao animal, por exemplo, este tipo de informação é extremamente importante, pois é preciso saber quais as necessidades do pássaro para que sejam criadas reservas.?
O monitoramento será feito por satélites das séries SCD (Satélite de Coleta de Dados) e CRBERS (China Brazil Earth Resort Satellite). São dois satélites da série SCD, chamados de SCD-1 e SCD-2. Ambos são brasileiros. Já os da série CBERS são resultado de uma parceria do Brasil com a China. Todo o sistema é operado pelo Inpe.
Ave está ameaçada de extinção
O gavião-real é uma espécie que, no Brasil, está seriamente ameaçada de extinção. Antigamente, o animal ocupava quase todas as regiões do País. Hoje, dificilmente é visto em alguns locais. A ave normalmente habita grandes florestas virgens. Devido à destruição das mesmas pelo homem, acaba ficando sem ter onde fazer ninho e do que se alimentar.
?Outra ameaça ao gavião-real é a caça. Os caçadores costumam utilizar as penas do pássaro para decoração e as garras como amuleto. Além disso, o animal tem um crescimento populacional muito lento, geralmente só se reproduzindo a cada três anos. Quando isto acontece, podem nascer até dois filhotes. Porém, só um sobrevive?, explica José Eduardo Mantovani, do Inpe.
Para se alimentar, o gavião captura mamíferos (como macacos, cotias, tamanduás, preguiças, gambás, entre outros) e mesmo alguns répteis. Ele consegue segurar as presas graças ao tamanho e à imensa força de suas garras. Majestoso, tem até 57 centímetros de altura. As fêmeas chegam a pesar nove quilos. Já os machos são menores, podendo chegar até cinco quilos. Em relação à idade, há registros de gaviões-reais que chegaram a viver quarenta anos.
No Paraná, de acordo com o ornitólogo do Museu de História Natural de Curitiba, Pedro Scherer Neto, é muito raro encontrar o gavião-real. Os registros mais recentes da presença do animal no Estado foram realizados no município de General Carneiro, na região sul, e na divisa com Santa Catarina. ?O animal é raro em território paranaense, não sendo avistado com freqüência?, informa. (CV)
Zôo de Curitiba tem casal de gavião-real
Quem vive em Curitiba ou costuma visitar a cidade pode conhecer o gavião-real nas dependência do zoológico municipal, que fica dentro do Parque Iguaçu. Um casal da espécie é mantido logo na entrada do lugar, no terceiro recinto localizado à esquerda de quem entra. As aves geralmente chamam bastante atenção pelo porte e excentricidade.
O macho do casal entrou para o acervo do zoo em janeiro de 1998, sendo originário da região de Carajás, no Pará. Já a fêmea chegou no local em data anterior ao ano de 1997. Os biólogos, veterinários e funcionários do parque esperam com ansiedade que eles se reproduzam.
?Em outros locais do Brasil, já ocorreram nascimentos de gaviões-reais em cativeiro. Por isso, temos esperança que nossos animais também se reproduzam. Eles apresentam comportamento reprodutivo e, por isso, colocamos um ninho de madeira e gravetos no recinto em que permanecem. Estamos aguardando para ver o que acontece?, diz a bióloga do zoológico da capital, Maria Lúcia Faria Gomes.
As hapias que vivem em Curitiba recebem ratos de laboratório como alimentação. Diariamente, têm o lugar em que vivem limpo por tratadores (estes costumam ter muito cuidado ao entrar no recinto com o objetivo de não serem vítimas da força das garras dos pássaros). Também têm a água que bebem substituída diariamente e poleiros trocados sempre que necessário. ?Dificilmente as aves são contidas. Isto acontece apenas em casos extremos, como há pouco tempo, quando foi verificado que a fêmea tinha um ferimento na cauda?. (CV)