Mais de 4.200 civis morreram em episódios de violência ocorridos em Mogadiscio no decorrer dos últimos dois anos, segundo o único serviço de ambulâncias existente na capital da Somália. Ao mesmo tempo, um grupo humanitário norte-americano advertiu que a Somália é um lugar mais perigoso para a população civil do que países como o Iraque ou o Afeganistão.

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Mogadiscio, uma cidade litorânea, é alvo frequente de salvas de morteiro, foguetes e cápsulas de artilharia em meio aos confrontos que opõem as forças do frágil governo da Somália, apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pelos Estados Unidos, à milícia islâmica rebelde Al-Shabab.

Ali Muse, diretor do serviço de ambulâncias da cidade, afirma que 80% das mortes de civis são de responsabilidade das forças da União Africana (UA) e do exército da Somália. “Todas essas vítimas são civis mortos ou por balas perdidas ou por disparos de morteiros e cápsulas de artilharia”, diz ele. “Cerca de 80% desses civis”, prossegue Muse, “morreram no mercado de Bakara, que costuma ser atacado por mantenedores de paz da União Africana”.

O major Barigya Bahoku, porta-voz do contingente da UA em Mogadiscio, disse que não comentaria a declaração de Muse porque não havia sido informado sobre ela. De acordo com o serviço de ambulâncias dirigido por Muse, 2.171 civis morreram e 5.814 ficaram feridos de janeiro a outubro deste ano em episódios de violência ocorridos em Mogadiscio. No ano passado, 2.089 pessoas morreram.

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Grupos de defesa dos direitos humanos e moradores de Mogadiscio já acusaram em diversas ocasiões os soldados da UA de abrirem fogo indiscriminadamente em áreas densamente povoadas da cidade após disparos de rebeldes. Bakara é o principal mercado de Mogadiscio. Enquanto isso, Sarah Holewinski, diretora executiva do grupo Campanha pelas Vítimas Inocentes em Conflito, conhecido como Civic, observa que os civis são as maiores vítimas da violência na Somália, no Iraque e no Afeganistão.

No entanto, ressalta ela, a Somália talvez seja o lugar mais perigoso pelo fato de as partes em conflito não estarem sujeitas a normas internacionais referentes à proteção da população civil como em zonas de guerra convencionais. “O Al-Shabab refugia-se em mercados civis, ataca o governo ou bases da União Africana e depois foge. Então quando ocorre a reação eles já não estão mais ali”, diz ela. Quando a UA contra-ataca, prossegue, “ela o faz de forma indiscriminada e frequentemente mata civis, e isso apesar da retórica de que a entidade obedece às leis internacionais e não tenciona matar civis”.

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Na opinião da diretora da entidade sediada nos Estados Unidos, os grupos insurgentes existentes na Somália, no Iraque e no Afeganistão são os principais responsáveis por colocar em risco a vida de populações civis. Enquanto isso, em uma rara admissão de envolvimento na morte de civis, a UA pediu desculpas pelo envolvimento na morte de dois civis somalis em um incidente ocorrido ontem. Sete civis ficaram feridos no episódio.

A Somália não tem governo central desde 1991, quando senhores da guerra derrubaram o ditador Mohamed Siad Barre e depois voltaram-se uns contra os outros. Governos apoiados pela ONU foram formados a partir de 2004, mas todos encontraram extrema dificuldade para impor autoridade. As informações são da Associated Press.