Brasileiros que nasceram ou moraram em Curitiba e agora vivem em Israel relataram para a Tribuna como está a situação no país depois do ataque surpresa do grupo terrorista Hamas, realizado no último sábado (07). De acordo com o exército israelense, o confronto entre Israel e o Hamas já matou 1,7 mil pessoas, sendo 900 cidadãos do país e 770 palestinos.
Nesta terça-feira (10), o Ministério das Relações Exteriores confirmou a morte de dois brasileiros que estavam desaparecidos desde o final de semana. Bruna Valeanu, de 24 anos, e Ranani Nidejelski Glazer, de 23 anos, participavam de um festival de música eletrônica a poucos quilômetros da Faixa de Gaza quando o ataque terrorista aconteceu.
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Natural de São Paulo e antiga moradora de Curitiba, a agente de viagens Thatiana Bekin Wencik, de 49 anos, vive há dez anos em Raanana, cidade israelense que fica a 20 quilômetros de Tel Aviv. Sem dormir direito desde o último sábado (07) e com muitas preocupações, a brasileira está esgotada. “Está difícil, tá muito cansativo, eu estou perto de um colapso. Tá muito cansativo acompanhar tudo e cuidar do meu filho, mesmo a distância”, afirma.
Nesta terça-feira (10), ela publicou nas redes sociais um vídeo do filho Mauricio Bekin Wencik, de 20 anos, relatando o que viu e viveu nesses quatro dias de conflito. Assista:
Thatiana tem dois filhos que nasceram em Curitiba. Mauricio está no exército de Israel. A mãe revela que fala com o filho sempre que consegue, mas como ele está em área de conflito, nem sempre está com o celular.
A agente de viagens confirma que nunca presenciou nada parecido. “Eles são vândalos, são [cometidos] crimes de guerra. É totalmente fora do padrão. O que está acontecendo é um genocídio, é violência gratuita. Eles sequestram bebês, matam cachorros e filmam”.
Thatina explica que possui um quarto protegido e é nele que ela se abriga quando a sirene toca. Sem saber o que vai acontecer, a brasileira espera que a situação seja resolvida. “Não pode ficar assim, a gente não pode ficar na mão de pessoas assim”.
“Não há nada parecido na história de Israel”
A Tribuna também conversou com o curitibano Gabriel Paciornik, de 46 anos, que reside em Israel há 26 anos. Ele revela que já passou por vários conflitos no país, como a Segunda Intifada, a Segunda Guerra do Líbano e conflitos na Faixa de Gaza em 2009, 2012, 2014, 2016 e 2018. Apesar de considerar todas essas situações extremamente trágicas, ele diz que o momento atual é totalmente novo.
“Não há nada parecido na história de Israel. É completamente diferente, eu nunca vi isso, nunca ninguém que mora aqui viu isso. Talvez quem participou da Guerra de Independência teve a chance de encontrar uma situação tão adversa, em que tanta gente morreu em tão pouco tempo. Não são exércitos atacando, não são países atacando Israel. São terroristas. Eles não são nem guerrilheiros, eles não vieram para lutar, eles vieram para chacinar, causar o terror. E isso é novidade, nunca houve uma coisa dessa e estamos esperando para ver o que vai acontecer”, afirma.
O curitibano trabalha como desenvolvedor de software e também é escritor. Ele é casado, tem dois filhos pequenos e mora em Herzliya, uma cidade que fica há 20 minutos ao norte de Tel Aviv. “Estamos sem escola, as crianças estão em casa. Estamos tentando fazer home office, mas é meio difícil”.
Rotina cheia de tensão
Paciornik relata que a rotina se torna uma espécie de realidade paralela, na qual é necessário ter noção de que o país está em guerra e estar preparado para situações que não fazem parte do dia a dia, como comprar um rádio de pilha para acompanhar as notícias caso a luz acabe ou se refugiar na escadaria do prédio – que não possui bunker – quando a sirene toca.
“Agora eu estou dentro de casa, fazendo café e continuando a trabalhar. Essa é a nossa rotina. Já é a terceira sirene de hoje e eu nem moro em uma região que costuma ter muita sirene. O pessoal do sul praticamente mora dentro do bunker, nem sai mais. E o pessoal da Faixa de Gaza já saiu de casa faz tempo ou morreu”, diz.
Apesar da recomendação orientar a população a ficar em casa, o curitibano comenta que as coisas continuam funcionando, os carros estão circulando e os trabalhos foram adaptados. Na manhã desta terça-feira (10), por exemplo, ele precisou ir ao supermercado.
“Até Deus fica aterrorizado com isso”, diz rabino
O Rabino Pablo Berman, da Comunidade Israelita do Paraná, comenta que esse é um momento de muito sofrimento. “O povo judeu está atravessando um momento de muita tristeza, chocados com o que aconteceu. Nunca tinha acontecido, fomos pegos de surpresa no sábado de manhã quando começamos a ouvir as primeiras notícias”.
Com tantas mortes brutais e violentas, o rabino afirma que essa é uma ação terrorista e não pode ser classificada como religiosa. “Eu acho que até Deus fica aterrorizado com isso. E isso que acontece não é Deus, isso é outra coisa, difícil de definir e entender como podem matar crianças e sequestrar”.
Berman acredita que a união do povo é fundamental para enfrentar os horrores dos ataques recentes. “Conversei com familiares e com o meu filho que está morando em Israel e eles falaram sobre a união do povo. Estão reunindo e dando comida para os soldados. A frase que falam uns para os outros é para ser forte nessa hora de provação. Essa união do povo judeu no mundo todo é uma das coisas mais emocionantes, apesar do sofrimento e da dor que estamos sentindo nessa hora”, comenta o religioso.
Para o futuro, o rabino expressa o seguinte desejo: “o que esperamos e queremos é viver em paz e poder continuar trabalhando juntos por um mundo que possa encontrar a paz”.
Em nota, a Confederação Israelita do Brasil (CONIB) condena o ataque terrorista em larga escala contra Israel promovido pelo grupo Hamas. “A comunidade judaica brasileira se solidariza com Israel e seu povo e urge as autoridades brasileiras a condenarem com máximo vigor esse ato de guerra e terror injustificável sob qualquer aspecto. Israel defenderá seus cidadãos diante desse ataque, como qualquer país faria”, finaliza comunicado.