O ex-general argentino Jorge Rafael Videla, autor do golpe militar que em 1976 instaurou a mais sanguinária ditadura da história da América do Sul, assumiu ontem a responsabilidade pelos crimes cometidos, rompendo seu silêncio desde a volta da democracia, em 1983. “Assumo minha responsabilidade na guerra interna. Meus subordinados limitaram-se a cumprir minhas ordens”, declarou ontem em um tribunal.
Videla está sendo julgado desde a semana passada em Córdoba pela acusação de ser o responsável direto de 31 assassinatos e 5 torturas ocorridos nos primeiros nove meses da ditadura nessa província. O ex-general, de 84 anos, é considerado o “arquiteto” do sistema de repressão aplicado pela ditadura, que torturou e assassinou 30 mil civis, além de sequestrar 500 bebês, filhos de desaparecidas políticas.
Ele justificou os assassinatos. “Era uma guerra interna. Defendo tudo o que o Exército fez”, afirmou, referindo-se à suposta atuação da guerrilha durante seu governo. No entanto, os grupos guerrilheiros haviam sido praticamente debelados em 1975, no fim do governo de Isabelita Perón, um ano antes do golpe.
Analistas afirmaram que, com suas declarações, Videla tenta eximir de culpa os 700 militares e policiais que estão sendo processados na Justiça por graves violações dos direitos humanos durante a ditadura.