O vice-presidente da Argentina, Julio Cobos, afirmou nesta quinta-feira (17) que não vai renunciar se a presidente Cristina Kirchner pedir ou como já pedem alguns militantes do Partido Justicialista (PJ). "Não penso em renunciar. Se me pedem a renúncia, estariam afetando a institucionalização, porque fui escolhido pela mesma quantidade de votos que a presidente", afirmou ele, em entrevista coletiva à imprensa, ao sair de sua casa.
Na madrugada desta quinta, o governo Kirchner sofreu uma derrota ao ver o projeto de lei que determinava o aumento dos impostos sobre as exportações agrícolas argentinas ser derrotado no Senado. A votação acabou em empate, e o voto de Minerva coube ao vice-presidente Julio Cobos, que decidiu contra o governo.
A hipótese de renúncia do vice-presidente argentino é um fantasma deixado pela renúncia de Carlos "Chacho" Álvarez, vice de Fernando De La Rúa, em 2000, antes da crise de 2001. A função do vice se limita à condução do Senado, como presidente da Casa, segundo prevê a Constituição. Quando surge uma crise e o vice-presidente demonstra diferenças com a Casa Rosada, a possibilidade de renúncia sempre aparece.
"Renunciar seria trair a vontade popular que votou em mim também", afirmou Cobos. "Ninguém está contra o modelo ou o governo, mas sim contra a forma e um projeto sem consenso", disse. "Pedi outro projeto e que a sessão fosse suspensa porque muitos senadores queriam contribuir com propostas para mudar o texto e encontrar uma solução para o conflito, mas não entenderam.
"Minha decisão foi de acordo com meus princípios, minhas convicções", justificou o vice-presidente da Argentina, explicando que trabalhou para que o projeto passasse mais tempo na comissão. "Minha intenção sempre foi buscar um consenso e evitar chegar ao plenário sem ter mudado uma vírgula, mas não entenderam", lamentou.
"Maturidade democrática"
Ele contou que não esperava ter que desempatar a votação e recordou que pertencia a outro partido, a União Cívica Radical (UCR). Por isso, considera natural pensar diferente dos justicialistas. "Espero que tenhamos chegado a uma maturidade democrática para discordar de idéias e propostas", afirmou. "Estou de acordo com a distribuição das riquezas, mas tem que ter rentabilidade razoável para gerar essa riqueza", disse o vice-presidente.
Cobos destacou em sua entrevista que tem a mesma legitimidade da presidente Cristina e, por isso, tem a responsabilidade de atuar de acordo com suas convicções. Segundo ele, pelas reuniões com prefeitos, governadores e produtores, percebeu que havia a necessidade de um consenso, com o qual o governo não estava de acordo. Para o vice-presidente "há uma crise social, não política". Também disse que espera ter uma boa relação com Cristina.