O vice-presidente argentino, Julio Cleto Cobos, é mais um problema na longa lista que a presidente Cristina Kirchner acumula nos últimos meses. O outrora pacato vice está mostrando desde o final de junho uma inesperada rebeldia que irrita e preocupa Cristina e seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner. Cobos, que parecia ser o tipo de vice que os Kirchners controlariam facilmente, despontou como um dos principais críticos do próprio governo. Ele interferiu na crise que sua chefe mantém há quatro meses com os ruralistas (cujo pivô é o aumento de impostos sobre as exportações agrícolas) e abriu diálogo com o inimigo.
O argumento do vice é que é preciso encontrar "um consenso" com os ruralistas, o primeiro setor empresarial a desafiar abertamente os Kirchners em meia década. Mas pedir consenso, para os Kirchners, adeptos do confronto aberto, é heresia e sinal de fraqueza. O analista James Nielsen, ex-diretor do Buenos Aires Herald, ressalta que "a hegemonia consentida dos Kirchners tem os dias contados". Um dos autores da contagem regressiva é o vice, cuja atitude abre precedentes para a desobediência generalizada dos aliados da presidente, muitos dos quais temem continuar comprometidos com um governo cada vez mais impopular.
Cristina não fala com seu vice desde 20 de junho. Na segunda-feira (7), durante um banquete das Forças Armadas, ela o cumprimentou de forma fria. Os ministros de Cristina, também presentes, nem dirigiram a palavra ao vice. Cobos não se intimidou. Ontem, na categoria de presidente do Senado, recebeu líderes ruralistas que há 121 dias confrontam a presidente.