Múmia com DNA do Tripanossoma. |
Rio – Especialistas em paleoparasitologia, ciência que estuda a presença de parasitas em múmias e fósseis, encontraram provas de existência da doença de Chagas no Brasil há pelo menos 1.200 anos. Graças à técnica, foi possível extrair o DNA do protozoário Tripanossoma cruzi, causador da moléstia, em um corpo mumificado dessa idade. Segundo os pesquisadores, a descoberta mostra que a doença existiu antes das casas de pau-a-pique, que vieram com a colonização, em 1500, e ainda servem de moradia para o barbeiro, inseto transmissor do mal. Em estágio avançado, a doença de Chagas causa graves lesões no coração, fígado, sistema nervoso e no sistema linfático e pode levar à morte. A descoberta do mal de Chagas na múmia, encontrada no norte de Minas Gerais, foi feita por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). ?Essa múmia tinha não só o DNA do parasita como uma lesão provocada pela doença. O intestino estava dilatado e havia massa fecal?, explicou o professor Adauto Araújo, coordenador da pesquisa Paleoepidemiologia da Doença de Chagas. Foi a partir da análise desse material orgânico que os pesquisadores chegaram ao protozoário. ?Tudo isso mostra que a doença existiu na América antes da introdução das casas de pau-a-pique, que surgiram com a colonização do Brasil. Agora, queremos comparar o genoma do parasita de 1.200 anos com os atuais para ver o que mudou e qual é a capacidade de lesão.? Apesar de entusiasmado com a novidade, ele afirma que ainda não é possível traçar um mapa da epidemia do mal de Chagas na época da múmia. ?Esse é o caso mais antigo visto até agora no Brasil. Mas, por enquanto, é o único.? Araújo afirma que a enfermidade sempre existiu na América. No Peru, o registro mais remoto do protozoário data de nove mil anos e no Chile, de dois mil anos. ?Nossa teoria é de que a doença é tão antiga na América quanto a presença do homem. Ela teria começado a contaminar a população andina há oito mil anos, quando os animais começaram a ser domesticados?, informou. Segundo o professor, pequenos roedores, gambás e tatus atraíam o barbeiro infectado. Quando os animais passaram a viver dentro das casas, como bichos de estimação, o inseto ficou mais próximo dos humanos. A partir daí, a enfermidade se espalhou e virou uma epidemia, ainda sem cura. Dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) mostram que a doença de Chagas atinge hoje cerca de 16 milhões de pessoas na América Latina; seis milhões delas vivem no Brasil.