A sentença de prisão perpétua para o ditador que por 30 anos governou o Egito com mão de ferro deve aumentar a polarização política. A batalha no tribunal passa a se concentrar na tensa campanha presidencial, que terá seu desfecho no segundo turno da eleição, em duas semanas.
No disputa entre o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Mursi, e o militar Ahmed Shafiq, o último premiê de Mubarak, estão em confronto as duas principais forças políticas do país. Shafiq assumiu a chefia do gabinete durante os protestos que deixaram mais de 800 manifestantes mortos em 2011, e seus opositores esperam que o veredicto sirva contra ele.
Mursi declarou que irá pedir um novo julgamento e que “não descansará até que haja justiça para os mártires da revolução”. A revolta maior foi causada pela absolvição de seis agentes de segurança e pelo argumento de que não há provas de que o governo ordenou a repressão aos manifestantes. “Se não foi a polícia, quem matou os manifestantes?”, questionou o advogado de direitos humanos Hossam Bahgat.
Embora os ativistas liberais que lideraram os protestos contra Mubarak repudiem o caráter religioso das propostas de Mursi, muitos devem apoiá-lo como única forma de evitar a vitória de um ex-membro do antigo regime. Ayman Nour, que em 2005 desafiou o sistema de partido único da ditadura militar e se lançou candidato à Presidência contra Mubarak, disse que apoiará Mursi em protesto contra o veredicto.
“Depois dessas penas leves, pessoalmente declaro meu apoio a Mohamed Mursi”, afirmou. Ahmed Shafiq, segundo mais votado no primeiro turno após uma campanha baseada na promessa de restaurar a ordem pública, disse que o veredicto é uma “lição histórica”. “Isso significa que ninguém no Egito está imune de punição.”
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