O jornal católico “L?Osservatore Romano” condenou a pílula abortiva RU-486, que começará a ser testada num hospital de Turim a partir de outubro, qualificando-a de um “fármaco contra a vida”. A pílula, produzida com altas doses dos hormônios sintéticos mifepristone e misoprostol, induz quimicamente abortos em mulheres entre a quinta e a nona semanas de gestação.
A interrupção da gravidez ocorre com o bloqueio da ação da progesterona, hormônio que proporciona nutrientes ao tecidos uterinos, fazendo com que o feto em desenvolvimento definhe até se desintegrar.
O teste com a RU-486 em Turim, aprovado após quase dois anos de discussões, será realizado comparando-se seus efeitos em diferentes dosagens em 400 mulheres até a sétima semana de gestação.
“Novamente a ciência é posta a serviço da morte. As coisas precisam ser chamadas pelo nome: o aborto é a morte de um ser humano, perpetrada num momento em que ele não tem voz para defender seu direito à vida”, condenou o cardeal da capital piemontesa, Severino Poletto. O Vaticano já havia reprovado a RU-486 num documento contra a “cultura do sexo”, o “Dicionário da família e da vida”, publicado em janeiro do ano passado.
O método é recomendado por alguns médicos como alternativa menos arriscada que o aborto cirúrgico, no qual o feto é removido da cavidade uterina por um fino instrumento inserido através do colo do útero, numa operação que dura aproximadamente 20 minutos.
Mas a polêmica não diminui: 40 deputados de Aliança Nacional, que faz parte da coalizão de governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, enviaram uma mensagem ao ministro da Saúde, Girolamo Sirchia, exigindo a suspensão das experiências com o que chamaram de “pílula da morte”.
No lado oposto, membros do Partido Radical (centro-esquerda) expressaram sua satisfação com os testes em Turim, cuja aprovação foi conseguida graças aos esforços de um expoente desse partido, um ginecologista do hospital Sant Anna dessa cidade, que defende há vários anos o uso do medicamento.
A RU-486 já foi legalizada em países como a China, Grã-Bretanha, Suécia e Suíça, onde é fornecida pelos hospitais desde 1999, e também nos Estados Unidos, desde o ano passado. Estatísticas de organizações não governamentais indicam que o medicamento já é utilizado por mais de 600 mil mulheres na Europa e três milhões na China.