O primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan, disse hoje que a situação na usina nuclear Daiichi, em Fukushima, está caminhando para a estabilidade. No entanto, mais cedo, o governo elevou a classificação do nível do acidente na usina para a pior nota em uma escala internacional. “A usina Daiichi, em Fukushima, está se estabilizando a um passo de cada vez, e os níveis de radiação estão caindo”, disse Kan. O premiê acrescentou que seu governo não paralisará nenhum dos reatores nucleares em outras usinas em funcionamento pelo país.
O governo elevou a classificação do acidente na usina Daiichi de 5 para 7, na Escala Internacional de Eventos Nucleares e Radiológicos. O nível é o mesmo do desastre em Chernobyl, em 1986. Kan disse que essa elevação, realizada após um mês do acidente, “não mostra que nós nos atrasamos ou subestimamos a situação”.
A usina nuclear em Fukushima foi bastante danificada pelo terremoto e o subsequente tsunami ocorridos em 11 de março. Foram liberados materiais radioativos para a atmosfera e o oceano, enquanto trabalhadores lutavam para controlar a crise. Uma semana após o tremor, a agência de segurança nuclear japonesa classificou a crise como de nível 5, o mesmo do acidente nuclear em Three Mile Island, na Pensilvânia, Estados Unidos, em 1979.
Agora, com o risco de uma reação nuclear descontrolada na usina nuclear Daiichi caindo, as autoridades japonesas começam a enfocar mais a proteção dos reatores bastante danificados da usina, diante do risco de fortes réplicas de terremotos e também de possíveis tsunamis. As autoridades locais admitiram que não estavam preparadas adequadamente para eventos desse tipo.
Novo tremor
Hoje foi registrado mais um terremoto, de magnitude 6,3, na região de Fukushima. O tremor não causou danos nem problemas nas usinas do país. Também não provocou um tsunami. No caso do terremoto de 11 de março, a maior parte do estrago na usina Daiichi foi causada pelo tsunami subsequente ao tremor. Os reatores foram desligados desde o tremor do mês passado, porém as barras de combustível nuclear sofreram danos e derreteram parcialmente. Com isso, exigem constante refrigeração para evitar um superaquecimento e danos nos reatores.
“As maiores ameaças que enfrentamos são sem dúvida réplicas (de terremotos) e um tsunami”, disse um graduado funcionário do escritório do primeiro-ministro. “O desafio imediato vinha sendo como evitar grandes explosões na usina. Mas, desde então, a situação está de certa maneira estabilizada e nossa avaliação agora é de que a maior ameaça são as réplicas e um tsunami”, avaliou a fonte, pedindo anonimato.
O terremoto desta terça-feira foi o 61.º com uma magnitude igual ou maior a 6,0 no norte e no centro do Japão, desde o forte terremoto de magnitude 9,0 em 11 de março. No final do dia de ontem, um terremoto de 7,1 causou problemas no fornecimento de energia, deixando os três reatores mais danificados na usina Daiichi sem eletricidade para resfriamento por cerca de 50 minutos. O problema foi, porém, controlado em seguida, sem maiores transtornos.
Um funcionário da agência regulatória nuclear japonesa, Hidehiko Nishiyama, disse que a usina Daiichi não está completamente segura da ameaça de futuros tsunamis. Nishiyama afirmou que a prevenção de um desastre como o de 11 de março é prioridade no governo. Segundo ele, o governo lançou uma diretriz em 30 de março, determinando que todas as usinas do país garantam que suas instalações continuem a operar adequadamente, mesmo se houver uma queda no fornecimento de energia.
O funcionário disse que os responsáveis pela usina devem estabelecer um sistema de garantia desse fornecimento mais abrangente até o fim do mês. Isso deve incluir linhas adicionais de energia até as usinas, checagens em geradores e mais caminhões disponíveis nas usinas para gerar energia em emergências.
Nishiyama afirmou ainda que a crise em Fukushima foi menos séria que a de Chernobyl. Segundo ele, o nível de radiação liberado até agora pela usina japonesa é de cerca de um décimo dos 5,2 milhões de terabecquerels liberados após o desastre de Chernobyl. Nishiyama lembrou que, em Chernobyl, o reator nuclear explodiu, enquanto na usina Daiichi as estruturas onde ficam os reatores tiveram danos pelas explosões, mas os reatores não tiveram danos estruturais que levassem a grandes liberações de radiação.
Porém um funcionário da proprietária da usina Daiichi, a Tokyo Electric Power (Tepco), não descartou a possibilidade de que, se a radiação seguir sendo liberada, a quantidade total dela se igualar ou mesmo ser superior à emitida em Chernobyl. As informações são da Dow Jones.