Comunicado oficial do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado nesta sexta-feira (30) em Nova York, coloca as crianças e adolescentes das favelas do Complexo do Alemão, no Rio, no mesmo patamar de vulnerabilidade das que vivem em situação de extrema pobreza em regiões de conflitos armados, como Faixa de Gaza, Afeganistão, República Centro-Africana, Nepal e Sri Lanka.

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Segundo o oficial para Programas de Proteção à Infância e Juventude do Unicef no Rio, Jacques Schwarzstein, a entidade condena ações e ataques que interferem no bem-estar e no aprendizado de crianças e adolescentes no mundo. Por isso, a preocupação com o confronto entre policiais e traficantes de drogas no Alemão, que contabiliza 44 mortos. ?A violência urbana ameaça as crianças e impede que elas freqüentem as aulas. Além disso, elas vivem, ouvem e vêem situações de violência cotidiana. Isso os coloca em situações de stress máximo.?

A estimativa do Unicef é que pelo menos 4.800 crianças são prejudicadas quando as aulas no complexo são suspensas ou transferidas para apenas uma escola – sem contar o risco que correm ao se locomoverem em meio ao tiroteio. ?O que parece claro é que operações dessa envergadura precisam ser antecedidas acompanhadas e complementadas por ações de outras áreas, para identificar onde o Estado precisa trabalhar para minimizar os impactos negativos, principalmente nas crianças.

Ontem, o comércio reabriu no Alemão, mas as ruas continuaram vazias e alguns colégios suspenderam as aulas devido à baixa freqüência. ?Nunca sabemos quando a escola vai abrir ou não?, lamentava Rosângela Rodrigues, mãe de Gabriel, de 6 anos, que está em fase de alfabetização. Ela contou que voltou para casa, a pedido da professora, porque o filho foi o único da classe a comparecer.

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A Secretaria Municipal de Educação confirmou a baixa freqüência dos alunos, mas disse que professores e funcionários foram aos colégios e a merenda escolar estaria normalizada. ?Vivo nessa angústia. Se levo meu filho para a escola, encontro os portões fechados. Não posso levar para o trabalho comigo porque meu emprego fica em área de risco. Deixar em casa sozinho me deixa preocupada, mas é a única opção?, disse Solange Grifo da Costa, também mãe de um menino de 6 anos que mora na Favela da Fazendinha. (colaborou Pedro Dantas)