Sexta-feira ?de Carnaval?. Tinha necessidade de fazer algumas compras pra casa. Saí e… Puxa! Perdi o ônibus… Corri pra não perder outro. Entrei, muitos lugares vazios. Sentei ao lado de um senhor e, muito cara de pau, perguntei se ele estava indo pular o Carnaval!
Ele achou graça, passamos a conversar. Em dado momento percebi um sotaque diferente: ele realmente não é brasileiro, mas reside no Brasil faz mais de cinqüenta anos. Por acaso somos ?quase vizinhos?.
Ele é croata! Um croata aqui em Curitiba! Um general croata no mesmo ônibus, conversando comigo… Seu nome: Karlo Buric.
Mas, e eu que não tinha ao menos uma folha de papel pra tomar nota do que ele me contava! Descemos no mesmo ponto e ele, muito gentil, me presenteou com um pequeno caderno.
Foi guerrilheiro aos treze anos, companheiro de outro menino chamado Tito, também com treze anos. Na Croácia!
Lutavam tanto homens quanto mulheres contra a invasão alemã.
(Ao tempo da segunda guerra mundial!)
Não possuíam armas próprias nem uniformes, tudo era tirado dos soldados caídos nas batalhas.
Aos dezoito anos, Karlo já era capitão. O outro menino, que também havia ido para as guerrilhas aos treze anos, ficou conhecido e famoso como Marechal Tito. Um herói croata!
Tito faleceu em conseqüência de gangrena numa perna…
Ele, o Karlo, não me explicou a razão dos três atentados que sofreu: um na Grécia, outro na Itália e o terceiro no Rio de Janeiro.
Provavelmente motivos políticos.
Karlo Buric trabalhou muito aqui no Paraná. Pelo que me falou, era representante de maquinário agrícola. Casou com uma paranaense, tem quatro ou cinco filhos. Viaja sempre com passaporte diplomático. Tudo por conta da embaixada da Iugoslávia! Está em vias de viajar novamente para a antiga Croácia.
Boa viagem Karlo!
Domingo de Carnaval, aqui em Curitiba. Como não podia deixar de ser, ?a feirinha? de artesanato atraiu muita gente. Olha daqui e dali, de repente, vimos um jovem com um cocar muito lindo, sentado na calçada vendendo artesanato indígena. Malaia, seu nome. De Rondônia. (Conforme me lembro.)
Da tribo dos Acarazitas. Lá em Rondônia ainda existe muita mata e eles, os índios, usam e ensinam aos brancos o uso das plantas medicinais. Malaia veio estudar em Curitiba, vai prestar vestibular para o curso de Cinema. Tive a impressão de que ele não está muito ambientado com a cidade e os colegas. Posso estar enganada. Mas ele prefere ficar em casa estudando e preparando artesanato para vender na feira!
Margarita Wasserman é escritora e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.