Um novo objeto no sistema solar questiona se Plutão é um planeta ou um asteróide

A mais nova ameaça ao status de Plutão como planeta foi a localização de um grande asteróide no Cinturão de Kuiper.

A descoberta de que o asteróide Quaoar – força da criação, na língua da tribo tongva (os primeiros habitantes da bacia de Los Angeles) – com um diâmetro de 1.250km, um pouco maior do que Caronte (1.200km), único e minúsculo satélite de Plutão (2.200km) – o mais afastado dos nove planetas conhecido até hoje do sistema solar -, criou um enorme interesse, pois os astrônomos acreditam que devem existir outros asteróides de dimensões maiores, no Cinturão de Kuiper. Realmente, com 1.250km, o novo objeto celeste é o maior já encontrado no sistema solar desde a descoberta de Plutão em 1930.

Há dois anos, mais exatamente em novembro de 2000, a descoberta do asteróide Varuna, batizado em homenagem ao deus do cosmos na mitologia hindu, provocou uma enorme discussão sobre o status de Plutão, quando a equipe do Instituto de Astronomia de Honolulu, sob a chefia do astrônomo inglês David Jewitt, que trabalha também no Projet Spacewatch, destinado à pesquisa de corpos celestes cuja queda poderia ameaçar a vida em nosso planeta, descobriu Varuna.

Um dos objetivos do Projeto Spacewatch é vigiar o Cinturão de Kuiper, antigo anel de asteróides gelados que orbitam o Sol. Situado além de Netuno, esse cinturão, cuja existência foi prevista pelo astrônomo norte-americano de origem holandesa Gerard Peter Kuiper (1905-1973). O interesse em estudar a composição dessa faixa é muito grande, tendo em vista que o Cinturão de Kuiper deve ter permanecido mais ou menos inalterado desde o surgimento do sistema solar.

Há oito anos atrás, Plutão e Caronte constituíam os dois maiores objetos conhecidos no Cinturão de Kuiper – uma concentração de asteróides que se formaram ao redor do Sol, há mais de cinco bilhões de anos, a partir da remanescente nuvem de gás e pó que deu origem ao sistema solar.

Desde 1992, cerca de 400 objetos foram identificados, com o auxílio dos mais possantes telescópios. Acreditam os astrônomos que o Cinturão de Kuiper deverá conter centenas de milhares de objetos celestes do tamanho de 100km de diâmetro e bilhões de outros de 10km de diâmetro. Em virtude da sua constituição e da distância a que estão situados em relação à Terra, esses asteróides são difíceis de serem identificados em razão da sua fraca luminosidade. Em conseqüência da enorme distância do Cinturão de Kuiper, situado entre 30 a 50 unidades astronômicas do Sol, ou seja, 4,5 a 7,5 bilhões de quilômetros, os componentes deste anel de asteróides recebem pouca luz solar, o que dificulta a sua observação. Para compensar esta deficiência, os astrônomos da Universidade do Havaí, utilizaram o telescópio James Clark Maxwell, do Observatório de Mauna Kea, o mais sensível do mundo em relação às imagens termicamente fracas. Em suas pesquisas, os astrônomos compararam simultaneamente essas imagens com as imagens ópticas, com objetivo de determinar o seu diâmetro a partir do brilho devido ao seu poder refletor. A determinação da emissão térmica de tais objetos frios tem sido muito difícil em virtude de maior parte das emissões serem absorvidas pela atmosfera terrestre. O sucesso das pesquisas com o Varuna devem-se ao fato do telescópio James Clark Maxwell estar instalado a uma altitude superior a 4km acima do nível do mar, o que permitiu aos astrônomos observá-lo através da “janela” do infravermelho.

As observações em infravermelho mostraram que Quaoar reflete 10% da luz que o alcança. Em geral, os objetos do Cinturão de Kuiper possuem um poder refletor muito baixo. Até hoje, uma exceção é o Varuna, cuja superfície era relativamente mais luminosa. Realmente, com 40% do diâmetro de Plutão, Varuna reflete 7% da luz solar que atinge a sua superfície mais escura que a de Plutão que reflete 60% da luz incidente.

O possível aparecimento de outros asteróides de dimensões maiores no Cinturão de Kuiper deverá colocar de novo em discussão a condição de planeta atribuída a Plutão, apesar da União Astronômica Internacional já ter decidido que Plutão é um planeta, tendo em vista que assim foi considerado por ocasião da sua descoberta pelo astrônomo norte-americano Clyde Tombaugh (1906-1997), em 13 de março de 1930, quando se confirmou a previsão matemática do astrônomo norte-americano Percival Lowell (1855-1916). No entanto, segundo David Jewitt, o mais lógico seria aceitar Plutão como o maior objeto, até agora conhecido, do Cinturão da Kuiper.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

é pesquisador-titutar do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no qual foi fundador e primeiro diretor.Autor de mais de 65 livros, entre outros livros, do “O Livro de Ouro do Universo”.

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