?O maior presente é um pedaço de você mesmo.? (Ralph Waldo Emerson)

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Eu estava em San Francisco, a poucos dias do Natal. As lojas já começavam a ficar entupidas e multidões esperavam impacientemente pelos ônibus e bondes no fim da tarde.

Quase todo mundo carregava pilhas de pacotes, e o cansaço era tanto que eu comecei a me perguntar se os inúmeros amigos e parentes mereciam mesmo aqueles presentes e tanto sacrifício. Esse não era bem o espírito de Natal que eu desejava.

Por fim fui literalmente empurrada para dentro de um bonde superlotado, e a idéia de ficar ali como sardinha em lata até chegar em casa foi se tornando insuportável. O que eu não daria por um lugar sentada!

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À medida que algumas pessoas foram descendo, consegui respirar melhor e comecei a notar os outros passageiros. Com o canto dos olhos vi um menino pequeno, de pele escura – não podia ter mais do que seis anos – puxando a manga de uma mulher e perguntando: ?Quer se sentar??. Ele a levou até o assento vago mais próximo e partiu em busca de outra pessoa cansada. Assim que um cobiçado lugar surgia, ele rapidamente se enfiava em meio àquela massa humana para procurar mais uma mulher carregada de pacotes e levava-a até o assento. Finalmente, quando senti um puxão em minha própria manga, já estava completamente fascinada pelo menino. Ele me pegou pela mão e com um sorriso do qual jamais vou me esquecer disse: ?Venha comigo?.

Mal tive tempo de agradecer, pois ele já partia em busca de mais uma necessitada. Os passageiros do bonde, que em geral viajavam olhando para a frente e evitando os olhares dos vizinhos, começaram a trocar sorrisos. Uma mulher comentou comigo o cansaço que sentia, e três pessoas se abaixaram ao mesmo tempo para apanhar um pacote que caíra no chão. Em pouco tempo, as pessoas conversavam. Aquele menininho havia realmente mudado alguma coisa – todos nós nos sentíamos envolvidos num sutil sentimento de aconchego, e o resto do percurso foi puro prazer.

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Não percebi o menino descer. Quando olhei, ele não estava mais ali. Quando cheguei ao meu ponto, saltei do bonde pisando nas nuvens e desejei sinceramente ao motoqueiro ?Feliz Natal?. Pela primeira vez percebi como as casas de minha rua estavam lindamente iluminadas e pensei em reunir os vizinhos para um chá antes do fim do ano. Eu me sentia de bem com o mundo, feliz com os presentes que comprara e com a alegria que eles dariam.

E de repente o Natal deixou de ser uma estressante festa de consumo para adquirir seu verdadeiro sentido. Mais uma vez era um menino que, com seu gesto de amor, anunciava nossa verdadeira vocação.

Autor desconhecido. in: Histórias para aquecer o coração edição de bolso. Rio de Janeiro: Sextante, 2003