Integrantes do setor de Ciências Agrárias da UFPR devem colocar em prática, até o final deste ano, um projeto de criação de animais silvestres nacionais, isto é, de espécies selvagens que vivem no Brasil ou que em algum momento de suas vidas passam por aqui, como no caso de aves migratórias que têm como rotas determinadas regiões do país.
Há algum tempo, a instituição de ensino mantém criações de animais silvestres considerados exóticos, como faisões, muito procurados para consumo da carne; avestruzes, com os quais são desenvolvidos trabalhos relativos à incubação, em parceria com a Cooperativa dos Estrutiocultores do Paraná; e pombos, como os king, criados para corte, e os pombos-correio, que eram utilizados como mensageiros na Segunda Guerra Mundial, não sendo detectados por radares, e atualmente participam de competições esportivas.
?Existem algumas portarias referentes à criação de animais exóticos, mas a atividade não precisa ser regulamentada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o que a torna mais simples de ser desenvolvida. Já as criações de espécies silvestres nacionais necessitam de regulamentação, o que faz com que os responsáveis pelas mesmas tenham que obedecer a uma série de exigências?, comenta o zootecnista, professor e doutor da área de produção de animais alternativos e silvestres da UFPR, Edson Gonçalves de Oliveira.
Oliveira: ?Existem portarias sobre a criação de animais exóticos?. |
Os responsáveis pelo setor de Ciência Agrárias entraram com pedido no Ibama, para iniciar a criação de espécies nacionais, há cerca de um ano e meio. Na ocasião, enviaram ao instituto uma carta-consulta baseada em suas intenções e receberam como resposta a confirmação da viabilidade do projeto. Na seqüência, foi escolhida como local para criação dos animais a fazenda Canguiri, uma área de proteção ambiental (APA) mantida pela universidade no município de Pinhais, nas proximidades do antigo Parque Castelo Branco, na Região Metropolitana de Curitiba.
?No momento, aguardamos que o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) realize uma vistoria na fazenda e diga se é possível ou não realizar a criação no local. Caso a resposta seja positiva, devemos iniciar a instalação das jaulas e, posteriormente, passar por nova vistoria de técnicos do Ibama para que os animais silvestres possam ser alojados. Esperamos que tudo isso seja concluído até o final de dezembro, para que no próximo ano letivo já possamos estar desenvolvendo as atividades que integram o projeto?.
As capivaras são animais que farão parte no projeto. |
Segundo o zootecnista, as criações de espécies selvagens podem ser comerciais, conservacionistas e científicas. A UFPR deve desenvolver uma criação comercial, embora seu principal objetivo não seja a venda de animais, mas a pesquisa. ?Optamos pela criação comercial porque, se escolhêssemos a conservacionista ou a científica, não teríamos o que fazer com os possíveis filhotes gerados pelos animais que vamos criar. Através da criação comercial, é possível, após trabalhar a mansidão dos bichos, vender os excedentes de pesquisa, por mais que não tenhamos intenção de competir com os criadores comerciais?, diz. ?Os excedentes serão passados para pessoas capazes de criá-los, que serão acompanhadas pela Federal por dois anos a partir do momento que adquirirem os animais. Caso o tratamento dado aos indivíduos não seja o adequado, os mesmos terão que ser devolvidos?.
O projeto envolve a criação de aves e também a de mamíferos. No caso das aves, estudantes de Medicina Veterinária, Zootecnia e Agronomia vão estudar a nutrição dos animais, o manejo, a reprodução e a incubação, tornando-se capacitados para, no futuro, orientar criações racionais e legalizadas. ?Vamos atender a uma demanda de mercado, pois atualmente os criadores de aves têm muitas dificuldades em encontrar profissionais capacitados para atender às necessidades de suas criações?, afirma Edson.
Já em relação aos mamíferos, será dada atenção especial à produção voltada ao consumo. Desta forma, os estudantes vão aprender sobre como a qualidade da carne está relacionada às condições nas quais os animais são criados. Porém, além da viabilidade econômica de determinada criação, os acadêmicos vão considerar e avaliar o bem-estar dos animais, mesmo que estes tenham como destino o abate.