A primavera árabe pegou a diplomacia turca de surpresa. Sob o comando do chanceler Ahmet Davutoglu, Ancara apostava há oito anos na política de “problema zero” com seus vizinhos no Oriente Médio. Mas desde fevereiro problemas não têm faltado: Egito, Líbia e Síria. Agora, o premiê Recep Erdogan corre atrás do prejuízo tentando criar vínculos com a oposição em cada um desses países, cruciais para os interesses turcos.

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O sinal mais evidente dessa mudança de posição foi a declaração dada na semana passada pelo presidente Abdullah Gul de que seu país perdera a confiança no ditador sírio, Bashar Assad. “Todos devem saber que estamos do lado do povo sírio”, disse Gul à agência estatal Anatólia. “Não há lugar no mundo hoje para regimes autoritários, fechados e de partido único. Se seus líderes não mudarem, podem ser removidos à força.”

Também houve uma mudança de posição sobre a Líbia. Antes resistente à intervenção militar no país, a Turquia reconheceu em julho o Conselho Nacional de Transição (CNT) como representante legítimo do governo líbio. Ancara também enviou 11,5 toneladas de ajuda humanitária ao leste da Líbia antes da tomada de Trípoli por tropas rebeldes.

Segundo analistas, o governo turco se deu conta de que precisa se aproximar das sociedades do Oriente Médio e não apenas de seus regimes, se quiser manter seu investimento estratégico e domínio comercial na região. “A primavera árabe foi um choque para a Turquia. O país vinha investindo muito na região e nas relações com esses regimes”, diz a diretora do centro de estudos turcos do Middle East Institute, Gonul Tol. “Agora, a Turquia se recuperou desse choque inicial e chegou à conclusão de que era necessário entrar em contato com a sociedade.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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